Cidadãos do cosmos…a Fraternidade Universal

Cidadãos do cosmos…a Fraternidade Universal

«O Ideal da Fraternidade Branca Universal é o de ajudar os humanos a aprenderem trabalharem para o mundo inteiro e não apenas só para si próprios…

Para que o organismo funcione bem e esteja de boa saúde é preciso que as células trabalhem em harmonia e desinteresse e não apenas para elas próprias: o estômago não digere apenas para ele próprio… mas para o conjunto, para o bem de todo o corpo, do homem inteiro…»

Omraam Mikhaël Aïvanhov

 

  • A cadeia viva das criaturas
  • A harmonia com o corpo cósmico
  • A consciência da unidade
  • Vida individual e vida coletiva
  • A ciência da vida
  • Microcosmos e macrocosmos: a lei das correspondências
  • A base da economia: prever
  • Recebemos gratuitamente, devemos dar gratuitamente
  • A vida é toda feita de trocas
  • 1.  Os alimentos falam-nos do universo
  • 2.  Nutrição: a transformação da matéria
  • 3.  Respirar a vida divina
  • Restabelecer o contacto com a vida universal
  • O trabalho com os espíritos da natureza
  • Uma saudação à criação

O  Homem  no  Organismo  Cósmico…

A cadeia viva de criaturas...

Todos os seres dos diferentes reinos da natureza estão ligados entre si. Quer tenhamos consciência disso, quer não, tanto os seres que estão abaixo de nós como os que estão acima de nós estão ligados a nós. Existe uma hierarquia viva na natureza e é graças a ela, graças ao elo que nos une a todos os seres superiores, que temos a possibilidade de nos elevar. Mas estamos ligados também a todos os seres que estão abaixo de nós, os animais, as plantas, as pedras, e esta ligação é extremamente potente. Se os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e os nossos atos são honestos e puros, recebemos do Céu forças benéficas que se derramam em nós através desta cadeia viva e ininterrupta de criaturas.

Mas estas correntes divinas não param em nós, atravessam-nos e descem até às criaturas situadas abaixo de nós e igualmente ligadas a nós nos reinos animal, vegetal e mineral. É assim que cada estado harmonioso que nós vivemos influencia beneficamente não só os seres humanos à nossa volta, mas também todos esses nossos irmãos e irmãs que são os animais, as plantas e as pedras. E, ao mesmo tempo, graças a uma outra corrente de circulação, as energias sobem do reino mineral até aos reinos superiores da natureza.

Pode-se comparar este fenómeno às duas correntes que circulam no tronco de uma árvore: a corrente descendente transporta a seiva elaborada que alimenta a árvore, enquanto a corrente ascendente transporta a seiva bruta até às folhas, onde ela é transformada. Na Árvore cósmica, o homem encontra-se também na passagem destas duas correntes, que o atravessam e com as quais ele tem de aprender a trabalhar conscientemente.

Aqueles que se esforçam por se ligar a esta cadeia viva de seres são incessantemente alimentados e dessedentados. Ao passo que aqueles que creem que podem separar-se dela ficam impossibilitados de absorver das suas energias e enfraquecem, pois de onde receberão eles o impulso, a inspiração, a sabedoria, o amor, as forças necessárias para a vida de cada dia? «Encontrá-las-ão em si mesmos», respondereis vós. Sim, por algum tempo talvez, mas esgotarão rapidamente as suas reservas. Mesmo que tenham começado grandes projetos, terão de interromper esses trabalhos, porque é impossível realizar qualquer coisa de grandioso se não se estiver ligado à cadeia viva das criaturas. É exatamente como se uma lâmpada imaginasse que poderia iluminar sem estar ligada à central elétrica. Não, é a central que lhe envia a corrente; a lâmpada é somente um condutor.

Na realidade, nós estamos ligados à Fonte divina quer queiramos quer não, mas esta ligação deve tornar-se consciente: assim, beneficiaremos plenamente dela para a nossa evolução e a de todas as criaturas do universo. O homem pode ser poderoso, pode fazer milagres, mas só se ele se tornar um condutor consciente das energias do alto.

A harmonia com o corpo cósmico ...

Se os humanos aceitassem estudar o modo como o universo foi criado, que regiões o constituem e que criaturas povoam essas regiões, compreenderiam que eles se encontram no corpo da natureza viva, que fazem parte de um todo e que devem agir em harmonia com esse todo. Para os que provocam muitos distúrbios com a sua atitude anárquica, é muito simples: a natureza toma uma purga e eles são rejeitados. Os anarquistas nunca são aceites por muito tempo. Se não forem os humanos a combatê-los, é a própria natureza, porque ela não tolera a desarmonia; é como um tumor, um cancro no seu corpo, e então ela remedeia isso. Sim, a natureza sabe defender-se.

Nada é mais importante do que viver em harmonia com esse grande corpo em que estamos alojados e somos alimentados. Nesta harmonia, estão incluídos todos os bens: a saúde, a força, a alegria, a luz, a inspiração. Quem trabalha para alcançar uma tal harmonia começa a sentir que todo o seu ser vibra em uníssono com a vida universal e compreende o que é a vida, a criação, o amor… antes disso, não. Antes, é impossível compreender. Intelectualmente, exteriormente, pode-se sempre imaginar que se compreende qualquer coisa, mas não: a verdadeira compreensão não se alcança através de algumas células do cérebro, consegue-se através de todo o corpo, até pelos pés, pelos braços, pelo ventre, pelo fígado. Todo o corpo, todas as células têm de compreender. Compreender é sentir intensamente. Vós sentis e nesse momento compreendeis e sabeis, pois provastes realmente. Nenhuma compreensão intelectual pode ser comparada à sensação.

Todo o universo é harmonia e, se pugnais mesmo pela vossa evolução, pelo vosso desenvolvimento, pela vossa vitória definitiva, deveis trabalhar para harmonizar todo o vosso ser com as forças do universo, com as criaturas de todas as hierarquias celestes, para vibrardes em uníssono com elas. O vosso verdadeiro poder está unicamente na faculdade que tendes de vos harmonizar. Ninguém pode impedir-vos de fazer isso. Sois livres de meditar sobre a harmonia, de a amar, de a desejar, de a introduzirdes em todo o corpo, em cada movimento, em cada palavra, em cada olhar. No dia em que realizardes esta harmonia, subitamente compreendereis tudo e vivereis em plenitude.

Impregnai-vos da palavra “harmonia”, não penseis em nenhuma outra, guardai-a dentro de vós como uma espécie de diapasão e, quando vos sentirdes um pouco inquietos ou perturbados, pegai nesse diapasão e escutai-o para pordes todo o vosso ser em consonância com a vida ilimitada, a vida cósmica. Harmonizar-se com algumas pessoas – a mulher, os filhos, os parentes, os vizinhos, os amigos – é bom, mas é insuficiente. Muitos estão em sintonia com pessoas medíocres, mas em dessintonia com a vida universal, e pouco a pouco esta dissonância infiltra-se neles e corrói todo o seu organismo psíquico. É com a vida universal que deveis sintonizar-nos, porque ela é que vos trará tudo aquilo de que necessitais: a saúde, a beleza, a luz, a alegria. E sentir-vos-eis tão fortes que nem sequer tereis medo da morte. Sim, graças à harmonia conseguireis vencer a morte.

E um dia também compreendereis as transformações que se operam no mundo graças ao nosso trabalho sobre a harmonia, em quantas famílias, em quantos países estamos a inspirar um grande número de pessoas que querem sair da desordem em que está mergulhado o mundo atual. Isto ainda vos escapa, não vedes as razões pelas quais devemos viver nesta harmonia. É porque não só começamos a vivenciar o Reino de Deus, mas também, e sobretudo, porque enviamos para o mundo inteiro, até às estrelas, correntes, ondas, forças de um tal poder e de um tal esplendor que, mais cedo ou mais tarde, toda a humanidade será obrigada a transformar-se e a viver em harmonia, em bondade e em paz.

A consciência da unidade...

Pensais que, quando os humanos dizem “eu”, sabem realmente do que falam? Quando eles dizem: «Eu estou… (doente ou com saúde, infeliz ou feliz), eu quero… (dinheiro, um automóvel, uma mulher), eu tenho… (tal desejo, tal gosto, tal opinião)», pensam que se trata realmente deles próprios e é precisamente nisso que se enganam. Como nunca se analisaram profundamente para conhecer a sua verdadeira natureza, identificam-se constantemente com este “eu” representado pelo seu corpo físico, pelos seus instintos, pelos seus desejos, pelos seus sentimentos, pelos seus pensamentos. Mas, se eles procurarem redescobrir-se pelo estudo e pela meditação, irão entender que, por detrás de todas as aparências, esse eu que procuram se confunde com o próprio Deus, pois a realidade é que não existe uma multidão de seres separados, mas um Ser único que trabalha através de todos os seres, que os anima e Se manifesta neles, mesmo sem eles se aperceberem. Enquanto não se apercebem desta realidade, os humanos vivem na ilusão; e esta ilusão afasta-os da Fonte divina em que todos têm origem e fá-los viver fora desta unidade, numa multiplicidade de pequenos “eus” separados que não param de se opor uns aos outros.

Achais que esta ideia é difícil de compreender? Vou dar-vos um exemplo. Se as células do nosso corpo tivessem uma consciência individual desenvolvida, conforme o órgão a que pertencem – o cérebro, o coração, o fígado, o estômago, etc. –, sentir-se-iam estranhas umas em relação às outras, porque as suas funções são diferentes. Mas, se depois estas células pudessem elevar a sua compreensão, aperceber-se-iam de que é um só ser que as abarca e as reúne a todas: o próprio homem. Acontece o mesmo com as criaturas humanas, que representam, cada uma, uma célula do grande corpo cósmico. Sim, o Criador é o único ser realmente existente, e todos os humanos não passam de células esparsas do seu corpo. E estas células, como permanecem num nível de consciência bastante inferior, opõem-se, hostilizam-se. Estes confrontos acontecem por causa da sua ignorância.

A partir de agora, é necessário que os humanos compreendam que pertencem ao grande corpo de Deus do qual representam, cada um, uma célula. Por isso, quando eles fazem mal ao próximo pensando que ele lhes é estranho, exterior a eles, e que não sofrerão se lhe fizerem mal, enganam-se, porque existe uma ligação entre todas as criaturas vivas. Quando fazemos mal aos outros, é também a nós que fazemos mal, mesmo que nesse momento não o sintamos. E acontece o mesmo quando lhes fazemos bem: é também a nós que o fazemos. Muitos verificaram que, se um ser que amam sofre ou leva pancada, é como se fossem eles a levar pancada, e se lhe acontece uma coisa feliz eles regozijam-se como se essa felicidade lhes acontecesse a eles. Isso acontece porque, instintivamente, intuitivamente, eles entraram na consciência da unidade. E é esta consciência da unidade que é o fundamento da verdadeira moral.

O Criador previu que, para o equilíbrio da criação, cada criatura teria aquilo de que necessita para viver e se desenvolver. Por isso, quando os humanos se confrontam e se destroem, trabalham contra o Criador. Ele criou-os diferentes, mas isso não foi para eles se combaterem por causa dessas diferenças. Todos vieram de Deus e Deus sofre por vê-los a digladiarem-se. Muitas vezes, eles julgam-se justificados nas guerras que pretendem travar em nome de interesses superiores, quando, na verdade, são inspirados pela ignorância e pelo egoísmo. A defesa destes interesses, desde que vá contra o interesse da criação no seu todo, levá-los-á à ruína. Sim, o verdadeiro interesse dos humanos confunde-se com o da Divindade. Só a conjugação dos interesses do homem com os interesses de Deus produz bênçãos para todos.

A vida individual e a vida colectiva...

Todos devem poder ajustar para si próprios a questão da vida individual e da vida coletiva.

O ser humano é uma entidade individual que tem vida própria; mas ele não está só, faz parte de um conjunto, e a questão que se põe a todos é a de conciliar as exigências da vida individual com as da vida coletiva. Cada indivíduo é particular, foi a Inteligência Cósmica que criou esta diversidade de criaturas e não se deve tentar nivelá-las. Cada um tem o direito de se manifestar com as suas diferenças, a sua originalidade, mas na condição de se harmonizar com o conjunto, como numa orquestra. Há grandes diferenças entre o violino, o violoncelo, o piano, o oboé, a flauta, a harpa, o trompete, os címbalos ou o bombo quanto à forma, ao material, à sonoridade! Mas desta diversidade nasce uma harmonia perfeita.

Cada indivíduo é independente, autónomo, bem entendido, mas está também ligado à coletividade humana e, para além dela, a todos os reinos da natureza, à coletividade cósmica. Por isso, nós vivemos simultaneamente duas vidas. Para a maior parte das pessoas, isto passa-se sem elas terem consciência, mas é desejável que se torne consciente. Aquele que tem tendência para se fundir na vida cósmica não deve perder a consciência do seu “eu”, para que possa pensar e agir sempre como um ser responsável. E aquele que se sente um indivíduo bem distinto dos outros deve ter consciência, embora salvaguardando o sentimento do seu próprio caráter, de que é uma célula do organismo cósmico, de que pertence a um conjunto.

Sim, mas o ser humano não pertence a este conjunto que é o universo como se fosse somente uma pedra, uma planta ou animal. Enquanto ser pensante, ele tem um outro papel a desempenhar: deve participar na construção do edifício que é a vida coletiva. Enquanto ele trabalhar só para si próprio, nada de bom poderá daí advir-lhe. Vós direis: «Como é que é isso? Se eu trabalho para mim, ganho alguma coisa!». Não, porque esse “eu” para o qual trabalhais, o eu egoísta, separado, é um precipício, e ao trabalhar para ele vós lançais tudo nesse precipício. Não é assim que se trabalha. Os individualistas, os egoístas, não veem tudo o que poderiam ganhar trabalhando para a coletividade. Eles dizem: «Eu não sou burro, trabalho para mim, desenrasco-me…» E é precisamente aí que eles perdem tudo.

Mas compreendei-me bem: quando falo em “coletividade” não se trata unicamente da coletividade humana, mas também do universo, de todas as criaturas do universo, do próprio Deus. Esta coletividade, esta imensidão para a qual trabalhais, é como um banco, e tudo o que fizerdes por ele ser-vos-á devolvido um dia, aumentado. Como o universo faz todos os dias negócios formidáveis – ele enriquece-se continuamente com novas constelações, novas nebulosas, novas galáxias –, todas essas riquezas virão um dia até vós. Não virão imediatamente, é claro, mas virão.

Quando depositais uma quantia num banco, não é no dia seguinte que recebeis os juros, deveis esperar, e quanto mais esperais mais elevados são os juros. No plano espiritual, a lei é exatamente a mesma. Vós trabalhais com muito amor, muita paciência, muita confiança, e inicialmente não tendes qualquer resultado. Não desanimeis. Se desanimardes, é porque não decifrastes bem o sentido das leis que regem a vida em sociedade. Sim, deveis conhecer as leis da banca e da gestão. Se as conhecerdes, compreendereis que é preciso esperar. Depois, as riquezas choverão de todos os lados e, mesmo que tenteis escapar-vos, será impossível, todo o universo vos lançará riquezas extraordinárias sobre a cabeça, porque fostes vós que as provocastes. A justiça é isto!

A ciência da vida ...

Quando os cientistas descrevem um mineral, um vegetal, um animal ou um ser humano, não há que criticá-los, o que eles dizem é verdade. Mas esta verdade é parcial. Para que ela seja completa, é preciso que eles recoloquem o objeto do seu estudo na vida cósmica a que ele pertence. Desligados dessa vida, a pedra, a planta, o animal ou o homem estão privados do essencial. Por isso, enquanto os investigadores continuarem nesta via, aquilo a que eles chamam verdade científica será uma verdade incompleta, mutilada.

Entendei-me bem, não se trata de pôr em dúvida o valor e o interesse da ciência. O verdadeiro problema é outro, está na cabeça dos investigadores, na sua atitude perante a vida, na sua incapacidade para ligar os objetos particulares do seu estudo ao conjunto da vida. Os seres e as coisas não existem separadamente, existem como partes de um todo, e as partes estão ligadas entre si. Isola-se um ramo, uma folha ou um fruto para o estudar. Mas não, é na árvore que é preciso estudar o fruto, para se compreender como ele é o resultado de todas as energias que circulam. Ouve-se sempre enaltecer a “verdade científica”. Mas, mais importante do que a verdade científica, é a verdade da vida. E a verdade da vida está em aprender a situar todas as vidas no edifício cósmico para ver como elas vibram em harmonia e participam na vida do todo.

Portanto, não basta observar e estudar com precisão todos os elementos da natureza, é preciso ir mais longe e ver as ligações que existem entre eles para se compreender como circula de um para o outro esse algo que eles não possuem separadamente: a vida. O verdadeiro saber encontra-se na vida. Se separardes os elementos, a vida já lá não estará. Saber que um mineral ou um vegetal tem tal propriedade, tal cheiro, tal sabor, tal cor, não é essencial, porque, enquanto os considerais isoladamente, separai-los da vida. Se os ligais a todos os outros elementos da terra e do céu, a vida aparece e vós possuis o verdadeiro saber.

Qualquer que seja o domínio que estudais e no qual exerceis a vossa atividade, deveis colocar a vida no centro e ver esta vida na sua dimensão mais elevada, mais ampla. Quando estiverdes ancorados no essencial, podereis permitir-vos ir explorar tudo o que quiserdes. Na medida em que já trabalhastes sobre o essencial, tudo o que fazeis a seguir beneficia dessa luz e ganha, para vós, uma outra dimensão. Não só alcançais um melhor conhecimento das coisas pelo intelecto, como, ao mesmo tempo, se desencadeia no mais íntimo de vós todo um processo de regeneração, pois entrastes de novo em relação com o todo: comungais com as correntes subtis do universo, estais mergulhados no seio da vida cósmica, participais desta vida em harmonia com todas as criaturas visíveis e invisíveis, e o vosso campo de consciência alarga-se.

Esta compreensão mais vasta da ciência é também a verdadeira religião. Sim! De que serve as pessoas repetirem que a palavra religião vem do latim religare (ligar) se, na sua cabeça, elas só fazem separações? Vós direis: «Mas a ligação de que elas falam é a ligação com Deus!» De acordo, mas o que significa uma ligação com Deus se essa ligação é acompanhada de uma separação em relação a tudo o resto? A mesma ligação que liga o Criador às criaturas deve ligar todas as criaturas entre si, e também todos os elementos da criação. A verdadeira religião consiste em compreender e sentir esta ligação.

Então, de futuro, pensai em encontrar um lugar no Todo para tudo o que possais ver, ouvir, estudar ou tocar, não deixeis nada de fora, desligado, separado da Árvore da Vida. Esta atitude, esta maneira de compreender as coisas, é que despertará em vós, pouco a pouco, todos os centros subtis. A estes centros, a mística hindu chama chakras; existem muitos métodos para os desenvolver e alguns deles são muito perigosos. O melhor método, o que eu vos recomendo, é trabalhardes para realizar em vós a unidade da vida.

Microcosmo e macrocosmo: a lei das correspondências ...

Desde as pedras e das plantas até aos arcanjos e até Deus, tudo o que existe no universo existe também no homem. É por isso que ao universo se chama “macrocosmos” (o grande mundo) e ao homem “microcosmos” (o pequeno mundo). O homem é infinitamente pequeno e o universo é infinitamente grande, mas entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande existem imensas correspondências. Todos os órgãos do nosso corpo físico, assim como os dos nossos corpos psíquicos e dos nossos corpos espirituais, estão em afinidade com regiões do cosmos. Evidentemente, não se deve imaginar que o cosmos tem órgãos como os nossos, mas, na sua essência, os nossos órgãos estão em correspondência absoluta com os órgãos do cosmos e, pela lei da afinidade, nós podemos contactar, no espaço, com forças e centros que correspondem a certas forças e certos centros em nós. Este conhecimento das correspondências abre-nos possibilidades incríveis. Toda a Ciência Iniciática está assente nesta lei das correspondências.

Entre o homem e o universo, entre o microcosmos e o macrocosmos, existe, pois, uma relação ideal, mas, pela sua maneira de viver, o homem rompeu esta relação. Por isso, ele deve esforçar-se por restabelecê-la e pode fazê-lo, porque, quando saiu das oficinas do Criador, recebeu tudo o que lhe era necessário para se desenvolver e re-encontrar, se se desviasse, o caminho da pátria celeste. Todos os espíritos que vêm incarnar na terra têm órgãos e instrumentos que correspondem às qualidades e virtudes do mundo divino e, porque é assim, eles têm em aberto todas as possibilidades, mas na condição de conhecerem as leis.

E quais são estas leis? Suponde que tendes dois diapasões absolutamente idênticos: se fizerdes vibrar um, o outro, em que não tocastes, também começará a vibrar. Diz-se que há ressonância. Todos conhecem este fenómeno, mas não param para aprofundar e compreender que se passa a mesma coisa com o ser humano. Se ele conseguir afinar o seu ser físico e o seu ser psíquico com as vibrações do universo, poderá contactar com as forças celestes para fazer uma troca com elas e assim receber ajuda e conforto. Sim, é uma maneira de comunicar. Vós falais e há quem vos escute; podeis mesmo contactar com certas forças para as fazer vir até vós e beneficiardes delas.

Suponhamos que estais tristes e angustiados. O que haveis de fazer? Ora bem, em vez de ficardes a chorar e a andar às voltas, por que não ides até junto dos seres que podem ajudar-vos? Direis vós: «Onde é que eles estão? Onde vou encontrá-los?» Eles estão aí, estão sempre presentes e, através do pensamento, podeis dirigir-vos a eles e contactá-los graças à lei acústica da ressonância, a lei da afinidade. Conhecendo esta lei, vós compreendeis quão importante é irdes mais longe, superardes-vos, para tocar as cordas mais sensíveis, mais subtis do vosso ser e fazê-las vibrar, sabendo que haverá forças, entidades e regiões que responderão. É a qualidade dos vossos pensamentos, dos vossos sentimentos, dos vossos desejos, que determina em absoluto a natureza dos elementos e das forças que serão despertados muito longe, num qualquer lugar no espaço, e que, mais cedo ou mais tarde, descerão até vós.

Então, atenção! Agora que conheceis esta lei da afinidade, que é a lei mágica por excelência, a base de toda a criação, podeis começar imediatamente a trabalhar. Pouco a pouco, conseguireis reconstruir tudo em vós, produzindo, com os vossos pensamentos e os vossos sentimentos, vibrações muito mais elevadas que irão até muito longe, pelo espaço, procurar entre os milhões e milhões de elementos aqueles que lhes correspondem.

A base da economia: prever ...

O progresso das ciências e das técnicas coloca imensas possibilidades à disposição dos humanos. Está bem, mas todas essas novas facilidades levam as pessoas a esperar tudo do exterior e a ser negligentes, irrefletidas, descuidadas. Podem descurar a sua saúde: há farmacêuticos, médicos, cirurgiões, dentistas, etc. Podem desperdiçar o papel, estragar os aparelhos, partir os objetos, manchar e rasgar as roupas, desperdiçar a comida: há muito onde reparar ou substituir tudo isto. Podem deitar um cigarro aceso para a floresta: se provocarem um incêndio, os bombeiros virão apagá-lo. Para quê preocuparem-se?

E assim a atenção, a vigilância, o discernimento, enfraquecem cada vez mais. Para quê desenvolvê-los se a sociedade oferece tantos meios para reparar as asneiras que se fez? Lá estão os investigadores e os técnicos para ajudar os humanos. Na realidade, eles não os ajudam. Ajudam, sem dúvida, os fabricantes que vendem os seus produtos, mas aos humanos, enfraquecem-nos, tornam-nos cada vez mais dependentes. Eu não digo que se deve parar o progresso material, o progresso técnico, não, mas é mais importante trabalhar no domínio interior para desenvolver a atenção, a prudência, a habilidade, a mestria. Há tantos desperdícios devidos à falta de atenção, à falta de consciência! E depois fala-se de economia…

Para praticar a verdadeira economia, é preciso estar consciente, atento, e ser previdente, senão, seja como for, corre-se para a ruína. É à natureza que vamos buscar tudo o que precisamos para a nossa existência e, mesmo quando somos nós que fabricamos os objetos, os produtos, somos obrigados, de uma maneira ou de outra, a utilizar materiais que se encontram na natureza. Mas a natureza não está aí para satisfazer os caprichos e as fraquezas dos humanos. Se eles continuarem a explorá-la sem conta, a poluí-la, a destruí-la, destruir-se-ão primeiro a si mesmos e, uma vez livre dos humanos, a natureza irá refazer a situação. Ela tem recursos, não se deixa vencer tão facilmente. Se o homem não faz o que deve para viver e trabalhar em harmonia com ela, ela defende-se. Até uma criança percebe isto. Então, por que é que os grandes especialistas não percebem? Porque só têm na cabeça a exploração e o lucro.

Por isso, cada um precisa agora de se tornar consciente e compreender como deve resolver esta questão da economia, desde logo para si mesmo, na sua própria existência. Não é nada fácil pôr ordem na sociedade, e alguns indivíduos apenas, apesar da sua boa vontade, não podem mudar as tendências perniciosas da economia mundial. Mas, se houver cada vez mais pessoas capazes de refletir sobre as suas vidas e as suas atividades para as porem em harmonia com o organismo coletivo, um dia elas conseguirão fazer prevalecer o seu ponto de vista.

Quando uma sociedade põe em primeiro plano os seus interesses económicos, mesmo que ela comece por obter sucessos virá sempre um momento em que encontrará dificuldades que não soube prever. Um exemplo: para um país que fabrica armas, nada é mais vantajoso, evidentemente, do que exportá-las. E assim se chega ao ponto de vender todo um material cada vez mais mortífero a povos que, pelas suas lutas contínuas, põem em risco a paz e a segurança de todo o planeta. Alguns destes povos mal sabem ler e escrever, mas isso não interessa, manda-se-lhes as armas mais perfeitas e envia-se-lhes peritos para lhes mostrar como usá-las. Por um lado, ganha-se muito dinheiro, é verdade, mas pelo outro paga-se muito caro esses lucros, porque a seguir há imensas despesas e grandes dificuldades para pôr termo aos conflitos que surgem em todos os cantos do mundo! No fim, fica-se perante problemas inextricáveis, porque não se refletiu, não se previu, só se considerou as vantagens imediatas.

A economia é a ciência da previsão. Sim, ser um bom economista não é contentar-se com soluções que talvez sejam boas naquele momento, mas depois… E no dia em que se toma consciência de que se está comprometido com opções que se tornaram perigosas é muito difícil voltar atrás!

Vós direis: «Então, o que havemos de fazer? A maior parte de nós não tem meios para intervir nos assuntos do país.» Eu não digo que deveis intervir diretamente, mas sim compreender que a economia não é uma questão só para os economistas, é também uma questão vossa. Enquanto seres humanos, enquanto células de um organismo vivo, nós podemos agir, mas para isso devemos desenvolver a nossa consciência e o nosso sentido das responsabilidades. Se esta tomada de consciência não ocorrer, a economia, em vez de trazer prosperidade, trará a ruína a muitos países.

Para se compreender a economia, é preciso escutar as lições da natureza. Direis vós: «Mas a natureza não nos dá qualquer lição de economia, pelo contrário. É um enorme desperdício toda a vegetação, todos os animais, todos os humanos que nascem e morrem continuamente há milhões e milhões de anos! Para que serviram todas essas vidas?» Para nada, é claro, no sentido do proveito imediato que vós atribuís à palavra “servir”. Mas todas essas vidas foram úteis na economia cósmica, elas fizeram parte do ciclo da vida. Não esqueçais que, para a natureza, a morte faz parte da vida e tudo o que morre entra na criação de outras existências.

A natureza nunca ficou entulhada pelos milhões e milhões de cadáveres de seres humanos, de animais e de plantas: eles voltam à terra para dar origem a outros seres vivos. Mas vede as dificuldades que os humanos encontram para se desembaraçarem dos seus resíduos! Eles fabricaram materiais e produtos que, depois de utilizados, não se decompõem naturalmente, ou que poluem a terra, o ar, a água, etc. É inútil enumerá-los, vos sabeis quais são. Dir-me-eis: «Mas as matérias plásticas, as pilhas elétricas, a gasolina, a energia nuclear, etc., representam um grande progresso.» Com certeza, eu não digo o contrário. Mas, ao mesmo tempo que se realizava esses progressos, dever-se-ia ter refletido nos inconvenientes que eles podiam trazer-nos. Ora, isso não foi feito: era preciso vender rapidamente!

Os humanos puseram o progresso técnico ao serviço da sua avidez, com o risco de destruírem até as bases da sua existência na terra. Por isso, o progresso técnico não é verdadeiramente um progresso. Será que o verdadeiro progresso consiste em enviar engenhos para outros planetas? E para fazer o quê, afinal? Para explorar os seus recursos e levar para lá a mesma desordem que existe na terra? Para combater no espaço? Para ir semear a desordem em todo o universo?… Evidentemente, não há mal algum em querer explorar o cosmos, mas não antes de se ter encontrado a atitude adequada. Os humanos não respeitam nada, julgam-se donos do universo, estão prontos a revolver tudo para satisfazer a sua curiosidade ou a sua cobiça. Pois bem, eles devem saber que um dia terão de pagar muito caro esse desrespeito e essa violência.

Recebemos gratuitamente, devemos dar gratuitamente...

Nós devemos tudo à natureza, os elementos de que o nosso corpo é formado e tudo o que nos permite subsistir: a água, a comida, o ar que respiramos, a luz e o calor do sol, os materiais com que fazemos o nosso vestuário, as nossas habitações, as nossas ferramentas… tudo. Os humanos têm muito orgulho na sua engenhosidade, mas de onde tiraram eles os materiais a partir dos quais fabricam os seus instrumentos, os seus aparelhos e até as suas obras de arte? Da natureza.

A natureza dá-nos tudo. Mas aquilo que nós usamos dela fica registado algures, em detalhe. São dívidas que contraímos para com a natureza, e um dia devemos saldar essas dívidas, temos de pagar. Como? Com uma moeda a que se chama respeito, reconhecimento, amor e vontade de estudar tudo o que está escrito no seu grande livro. Pagar significa dar qualquer coisa em troca, e tudo o que o nosso coração, a nossa inteligência, a nossa alma e o nosso espírito são capazes de produzir de bom pode ser um pagamento. No plano físico, nós somos limitados e a natureza não nos pedirá a devolução dos alimentos, da água e do ar que utilizámos. Mas no plano espiritual as nossas possibilidades são infinitas e aí podemos devolver o cêntuplo de tudo o que a natureza nos deu.

Quando o homem decide servir-se de todas as faculdades que Deus lhe deu para percorrer conscientemente o caminho da luz e do sacrifício, assume um compromisso com o serviço divino e Deus retribui dando-lhe a inteligência, a bondade, a beleza, etc. Ora bem, é com este dinheiro que ele pode pagar tudo o que usa da natureza. Aqueles que não estão ao serviço dos gestores celestes não recebem nada, ficam sem recursos, não têm “dinheiro” para pagar aquilo de que se servem. Eles comem, bebem, respiram, passeiam, tratam dos seus assuntos, mas, mais cedo ou mais tarde, os credores, as forças da natureza, vêm despojá-los, porque não se pode pagar-lhes com a negligência, a preguiça, a falta de respeito, a ingratidão. Então, os credores fazem-se pagar com a carne e os ossos do seu devedor: levam-lhe a vida.

A natureza expõe à nossa frente todas as riquezas, nós temos o direito de nos servir delas, está tudo à nossa disposição, mas na condição de pagarmos. Ah, estais surpreendidos por não ser gratuito?… É gratuito, mas vós também deveis dar gratuitamente! Deus dá-nos tudo gratuitamente e nós devemos fazer o mesmo. Nós pomo-nos ao serviço do Senhor e o Senhor, em troca, dá-nos a luz, o amor, a força, a paz. Pois bem, essa luz, esse amor, essa força, essa paz, são o dinheiro que nos permite entrar nos grandes armazéns da natureza e pagar. Quem não pagar com a ajuda deste dinheiro dado por Deus ver-se-á obrigado a pagar com sofrimentos, com doenças, com tormentos.

Nós somos convidados para a grande casa do Senhor; o nosso hospedeiro é muito acolhedor, muito generoso, mas, se nunca pensarmos em dar-Lhe qualquer coisa em troca, Ele olhar-nos-á como crianças atrasadas que não souberam crescer. Perguntai às criancinhas se elas pensam que devem alguma coisa aos seus pais. Para elas, é normal pedir e receber, utilizar. Felizmente, pelo menos em algumas delas, quando crescem a consciência desperta e aí começam a tornar-se adultos. Ora bem, nós também devemos tornar-nos adultos e compreender que devemos alguma coisa à nossa Mãe Natureza e ao nosso Pai, o Criador.

A vida é feita de trocas…

Aquilo a que chamamos “vida” não é outra coisa senão o resultado das trocas que nós fazemos com a natureza. A vida é toda feita de trocas. As manifestações mais evidentes disso são a alimentação e a respiração, e, se estas trocas forem impedidas, segue-se o enfraquecimento, a doença e a morte. Mas as trocas que é preciso fazer para viver não se limitam a alimentar-se e a respirar. Ou antes, pode dizer-se que elas consistem em alimentar-se, mas não unicamente no plano físico. Respirar é também uma maneira de se alimentar. A nutrição é o símbolo das trocas que nós fazemos com as diferentes regiões do universo para alimentar não só o corpo físico mas também os nossos corpos subtis: os corpos etérico, astral, mental, causal, búdico e átmico.

Quando compreenderdes como é possível encontrar nas diferentes regiões do espaço o alimento que convém aos vossos diferentes corpos, sentireis o universo como uma imensa sinfonia. Mas é preciso que comeceis por restabelecer as comunicações para que as correntes de energia possam circular entre o universo e vós, e o restabelecimento dessas comunicações só pode ser feito com um trabalho do pensamento.

A alimentação fala-nos do universo...

Quando comeis, aprendei a concentrar-vos nos alimentos pensando que estais a comunicar com todo o universo. É assim que os alimentos vos contarão a sua história, vos falarão da terra, do vento, da chuva, do orvalho, do sol, das estrelas…

Os alimentos são feitos de partículas e de energias que não vêm somente da terra, mas de todo o cosmos. Sim, os elementos vindos do cosmos é que se materializaram na forma de flores, de legumes, de frutos. Na realidade, os alimentos materializam-se na terra exatamente como as crianças se materializam no ventre da mãe. Na origem, as plantas e os frutos eram espíritos no espaço, mas, como não se pode trabalhar no plano físico se não se tiver corpo físico, para poderem agir eficazmente aqui na terra e alimentarem a vida, esses espíritos tiveram de se manifestar em conformidade com as leis da matéria: por isso, incarnaram-se.

Podemos comparar a nutrição à radiestesia. Isto surpreende-vos? Mas o que é a radiestesia? A capacidade de detetar radiações emitidas pelos objetos. Ora, os alimentos receberam influências de todo o cosmos: não só os quatro elementos participaram na elaboração de todos os alimentos que nós comemos, mas também o sol e as estrelas os impregnaram com os seus raios. Se os humanos estivessem mais atentos, se eles compreendessem a riqueza e o valor dos alimentos, se eles aprendessem a comer com amor e reconhecimento, poderiam receber e decifrar as mensagens que esses alimentos transportam e descobririam as maravilhas da criação.

O homem, tal como os animais, precisa de comer para subsistir. Mas, de modo diferente dos animais, o homem, pela sua consciência, pode fazer da alimentação um meio para crescer psíquica e espiritualmente. Eu irei mais longe: enquanto não for capaz de dar ao ato de se alimentar uma dimensão mais ampla, mais profunda, é inútil ele julgar-se instruído, civilizado. Para mim, isso é um teste. Quando os humanos aprenderem a comer com uma consciência esclarecida, maravilhando-se com os alimentos, pensando com reconhecimento que todo o universo trabalhou para produzir aqueles frutos, aqueles legumes, aqueles cereais, graças aos quais eles recebem a vida, então sim, poder-se-á falar de cultura e de civilização.

Ler livros não é a única maneira de nos instruirmos. Podemos instruir-nos também graças à alimentação, e o saber que assim recebemos é uma saber vivo, porque impregna toda a substância do nosso ser. As revelações que os alimentos nos trarão talvez não sejam aquelas de que depois poderemos falar, porque elas não se destinam ao intelecto. São sensações com as quais todo o nosso ser e toda a nossa existência ficarão enriquecidos.

Mas quem é que alguma vez pensou que os alimentos podem trazer-nos revelações? Que eles nos dão forças, disso ninguém duvida; e toda a gente ouviu falar das calorias, das vitaminas e das hormonas. Mas não se foi mais longe para ver o que os alimentos podem trazer nos planos subtis. Se soubésseis concentrar-vos e pôr-vos num estado recetivo, poderíeis mesmo ouvir as melodias que os alimentos tocam e cantam; eles dir-vos-iam como todas as partículas que os compõem atravessaram o universo, que seres trabalharam para os fazer crescer, que entidades se ocuparam constantemente, dia e noite, a infundir neles esta ou aquela propriedade para os tornar úteis aos filhos de Deus. Eles registaram até as impressões que neles deixaram os homens que trabalharam nos campos ou que se passearam junto deles. Que cerimónias mágicas ou que talismãs são capazes de vos trazer a vida como o fazem os alimentos? Nenhum. Então, não valerá a pena conhecer a sua história?

A nutrição: a transformação da matéria...

O homem come, todas as criaturas comem, mas porquê? Direis que é para receberem forças. Sim, mas não existe outra razão? Tudo o que fazemos não tem só uma razão, só um propósito, e se nós comemos não é apenas para termos vida e saúde…

Reparai: o que fazem as minhocas? Elas engolem a terra e depois expelem-na. Fazendo-a passar assim através de si, as minhocas trabalham a terra a fim de a arejar, de a tornar mais rica, mais fértil. Ora bem, o ser humano não faz outra coisa com a alimentação. Pelas suas faculdades psíquicas, espirituais, o homem pertence a um grau de evolução muito superior ao da matéria que absorve, e então, passando através dele, a matéria enriquece-se, refina-se.

Todas as criaturas se alimentam – as plantas, os animais, os homens – e, ao alimentarem-se, transformam a matéria que absorvem impregnando-a com elementos que ela não possuía. Como se fosse um dever para cada reino da natureza absorver matéria de reinos inferiores a fim de a fazer evoluir. A Inteligência Cósmica poderia, sem dúvida, ter encontrado outros meios, mas foi este que ela escolheu: decidiu que, para viver, cada criatura absorveria matéria do reino que lhe é inferior a fim de a fazer passar pelo reino superior. É isso que nós fazemos quando comemos.

Na realidade, a questão não está somente em fazer passar a matéria através do nosso estômago, mas também através dos nossos pulmões, do nosso coração, do nosso cérebro. Não é só ao comer que o homem pode melhor a matéria, mas através de todas as suas ações: quando respira, quando trabalha, quando fala, quando olha… Estais a ver até onde vai a tarefa do homem? E por isso, após a sua morte, quando a matéria do seu corpo se desintegra e volta aos quatro elementos – a terra, a água, o ar e o fogo –, as partículas que a constituem ficaram mais vivas, mais subtis, mais expressivas, e vão servir para outras formas, outras criações, de uma qualidade superior. Evidentemente, pode acontecer que, pelo contrário, estas partículas estejam aviltadas por causa da existência animal ou criminosa que o homem viveu e, por isso, elas só serão utilizadas para criações grosseiras.

Tomai consciência de até onde vai a responsabilidade do homem. Ele é responsável inclusive por aquilo que deixa de si mesmo após a sua morte, por todas as partículas do seu corpo: impregnou-as de luz, de amor, de bondade, de pureza ou, pelo contrário, de vibrações criminosas?… Sim, ele continua a ser responsável mesmo depois da morte. Eis verdades que a maioria das pessoas ignora, elas não sabem até onde vai a sua responsabilidade. Aliás, a consciência da responsabilidade é a consciência mais elevada que existe.

O homem precisa de compreender que recebeu esta missão grandiosa de transformar e sublimar a matéria da criação: ele tem de melhorar, embelezar, tudo o que come, tudo o que toca, tudo o que vê. É essa a nossa tarefa: fazermos passar a matéria através de nós para que ela saia divina. Enquanto não compreendermos isto, tudo o que fazemos é estúpido, insensato, a nossa própria existência não tem qualquer sentido. Nós temos a tarefa de apor o selo do espírito na matéria, de espiritualizar tudo, de divinizar tudo, e se conseguirmos fazê-lo seremos reconhecidos, apreciados, escolhidos pelos espíritos luminosos, que ficam junto de nós, porque compreendemos o sentido da vida.

Quando fazemos esforços para avançarmos, para nos superarmos, para criarmos qualquer coisa que é mais do que nós próprios, imprimimos à matéria o selo do espírito, e assim cumprimos a nossa tarefa de filhos de Deus.

Respirar a vida divina...

Tal como a ato de comer, o ato de respirar põe-nos em contacto com a vida universal. Mas, para que esta relação seja completa, rica, devemos estar conscientes dela e acompanhá-la com um trabalho do pensamento.

Podeis fazer este exercício: ao expirar o ar, pensai que começais a dilatar-vos até tocar os confins do universo… Depois, ao inspirar, regressais a vós, ao vosso eu, que é como que um ponto impercetível, o centro de um círculo infinito… Dilatais-vos novamente e voltais a contrair-vos… Descobrireis assim este movimento de fluxo e refluxo que é a chave de todos os ritmos do universo. Ao procurardes tornar este movimento consciente em vós próprios, entrais na harmonia cósmica e dá-se uma troca entre o universo e vós, porque ao inspirar vós recebeis elementos do espaço e ao expirar projetais de volta qualquer coisa do vosso coração e da vossa alma. Aqueles que sabem harmonizar-se com a respiração cósmica entram na consciência divina.

Mas quantos de vós estão preparados para compreender a dimensão espiritual da respiração? Se sentísseis essa dimensão, faríeis durante toda a vida este trabalho de inspirar a força e a luz de Deus e depois dar esta luz ao mundo inteiro, pois a expiração é também isso: distribuir a luz que se captou junto de Deus.

Inspirar, expirar… inspirar, expirar… É preciso saber que a respiração diz respeito a todas as manifestações da vida espiritual. A meditação é uma respiração, a oração é uma respiração, o êxtase é uma respiração, toda a comunicação com o Céu é uma respiração.

Aquele que aprende a respirar conscientemente ilumina o seu intelecto, aquece o seu coração e fortifica a sua vontade, mas também prepara melhores condições para as suas reincarnações futuras, porque, ao respirar com uma consciência desperta, ele entra em harmonia com as entidades mais evoluídas, atrai-as, cria uma ligação com elas. Então, estas inteligências luminosas aceitam vir trabalhar nele e, um dia, quando ele deixar a terra, encontrará nos outros mundos esses amigos com os quais já terá aprendido a trabalhar.

E nunca esqueçais que o vosso organismo forma uma sociedade cujos membros se esforçam por manter a unidade; por enquanto, ainda não conheceis esses associados que vivem dentro de vós, mas no dia em que fordes para o outro mundo encontrá-los-eis e sabereis que se trata de amigos que habitavam na vossa casa.

Restabelecer o contacto com a vida universal ...

Imensas pessoas têm a impressão de ter sido lançadas no mundo como num meio que lhes é estranho e até hostil! Porquê? Porque perderam o contacto com a natureza. Elas já não sentem a amizade, a benquerença de tudo o que existe à sua volta: as pedras, as plantas, os animais, o sol, as estrelas… Mesmo quando se encontram abrigadas nas suas casas, estão inquietas, perturbadas. Mesmo durante o sono, sentem-se ameaçadas. É uma impressão subjetiva, porque, na realidade, nada as ameaça assim tanto; mas, interiormente, algo se degregou e elas não se sentem protegidas. É preciso, pois, que elas restabeleçam o contacto com a vida universal a fim de compreenderem a sua linguagem e de trabalharem em harmonia com ela.

Toda a natureza fala, tudo o que existe no universo possui uma maneira particular de se exprimir. A questão está em trabalharmos sobre as nossas faculdades de perceção a fim de compreendermos todas as manifestações da natureza e as suas formas de linguagem, mas também em encontrarmos em nós próprios meios de expressão para nos dirigirmos a ela ou responder-lhe. Porque a natureza é viva e inteligente. Sim, inteligente; a inteligência não é própria só do homem. É muito difícil de admitir para alguns, eu sei, mas eles devem saber que, à medida que mudamos a nossa opinião sobre a natureza, modificamos o nosso destino. A natureza é o corpo de Deus. Se nós pensamos que ela é morta e estúpida, diminuímos a vida em nós, e se pensamos que ela é viva e inteligente, que as pedras, as plantas, os animais, as estrelas, são vivos e inteligentes, também introduzimos a vida em nós. E porque a natureza é viva e inteligente, devemos estar extremamente atentos a ela, respeitá-la e aproximar-nos dela com um sentimento sagrado.

Muitos de vós pensam: «Que importa se eu ajo em relação à natureza com respeito ou não? Para ela, isso nada muda, eu não lhe faço bem nem mal.» Na realidade, deveis respeitar a natureza não tanto por ela, mas por vós. Se fordes atenciosos com as pedras, as plantas, os animais e os homens, e até com os objetos que vos rodeiam, a vossa consciência da vida desenvolve-se, aprofunda-se, e sois enriquecidos por toda essa vida que respira e vibra em vosso redor. Certamente nunca pensastes nisto, e é essa a razão por que vos sentis muitas vezes desorientados, angustiados, no vazio. Quereis sair dessa situação? Pensai que estais ligados às forças e às entidades luminosas da natureza e que podeis comungar com elas. A verdadeira vida é esta comunhão diária e ininterrupta com uma multidão de criaturas. «Mas – direis vós – como fazer isso?» Pelo amor. Não há outra meio a não ser o amor. Se amais a natureza, ela falará em vós, porque vós também sois uma parte da natureza.

Claro que é necessária toda uma preparação para atingir este estado de consciência. Mas, no dia em que o atingirdes, sentir-vos-eis na luz e em paz, protegidos pela Mãe natureza que vos reconhece como seu filho, e ela acarinha-vos, toma-vos nos seus braços, dá-vos das suas alegrias… Vós nem sequer sabeis de onde vêm essas alegrias, mas ficais felizes, como se o céu e a terra vos pertencessem..

O trabalho com os espíritos da natureza ...

Da terra ao sol e para além dele, todo o espaço é habitado por criaturas. Os quatro elementos, a terra, a água, o ar e o fogo, são habitados. Essas criaturas são mencionadas nas tradições de todo o mundo. Talvez elas não se apresentem tal como foram descritas por cada religião ou cada cultura, mas existem, e nós podemos entrar em comunicação com elas e fazê-las participar no nosso trabalho para a vinda do Reino de Deus.

Quando caminhais na natureza, procurai tomar consciência da presença de todos esses espíritos que a povoam e que já existiam muito antes do aparecimento do homem na terra; ligai-vos a eles, falai-lhes, maravilhai-vos perante a beleza do trabalho que eles executam nos lagos, nos rios, nas florestas, nas montanhas, nas nuvens, etc… Então, eles ficarão felizes, tornar-se-ão vossos amigos e dar-vos-ão presentes: vitalidade, alegria, inspiração… Mas podeis ir ainda mais longe. Pedi a essa multidão de espíritos, que ali estão a contribuir com a sua atividade para a vida da natureza, que venham trazer a sua ajuda a todos os que trabalham para o amor, a luz e a paz: para a vinda do Reino de Deus à terra.

Ficai cientes também de que, quando ides à beira mar, há ali outras coisas para fazer que não apenas estar horas deitado na areia deixando o pensamento divagar. Dirigi-vos aos espíritos das águas e dizei-lhes: «Vós também podeis fazer qualquer coisa para o bem da humanidade. Esforçai-vos por influenciar todos os que vêm banhar-se e os que viajam de barco, inspirai-lhes o desejo de se melhorarem. Vós tendes poderes e, se insistirdes, eles acabarão por ouvir-vos. Vamos, ao trabalho!»

Os espíritos da natureza gostam que lhes deem trabalho, mas nunca se preocupam com o propósito bom ou mau, benéfico ou maléfico, desse trabalho. Seja quem for que lhe dê uma tarefa, eles executam-na, ficam inteiramente submetidos à vontade superior que conseguiu dominá-los. É por isso que tantos mágicos e feiticeiros os utilizam para realizar coisas abomináveis: os espíritos da natureza obedecem porque é essa a sua forma de ser, eles não têm qualquer consciência moral, fazem igualmente o bem e o mal. Cabe aos humanos, sabendo isso, estar vigilantes e aprender a recrutá-los unicamente com vista ao trabalho divino.

Vós imaginais que só homens podem ajudar outros homens e que só podem fazê-lo por uma ação política, económica, social. Não, neste organismo vivo e consciente que é a natureza e ao qual pertencemos, há imensas entidades preparadas para contribuir para a evolução da humanidade. Os quatro elementos – a terra, a água, o ar e o fogo – juraram perante o Eterno ajudar todos os que trabalham para se tornar criaturas de paz, de harmonia e de beleza.

De agora em diante, onde quer que estejais na natureza, pensai em dirigir-vos a todos os seres que habitam nas grutas, nas árvores, nos regatos, nos lagos e até no sol e nas estrelas: pedi-lhes para virem participar na vinda do Reino de Deus à terra. Um dia, milhões e milhões de espíritos pôr-se-ão a trabalhar nos corações e nos cérebros humanos, e o Céu reconhecerá em vós um construtor da nova vida, uma fonte, um filho de Deus.

Uma saudação à criação ...

As nossas mãos são como antenas que têm a possibilidade de captar correntes de forças, mas também de projetá-las. Alguns dirão: «Mas isso é perigoso, é magia!» Sim, é magia. Tudo o que fazemos é magia. Os magos são seres que sabem servir-se das suas mãos para receber forças ou projetá-las, para as reter ou as orientar, para as amplificar ou reduzir a sua intensidade. E não há de que ter medo, porque foi o Criador que dotou as nossas mãos com tais poderes.

Se as pessoas soubessem observar, reconheceriam em certos gestos da vida quotidiana um vestígio deste saber milenário a respeito das nossas mãos e dos seus poderes. Reparai: em todos os países, quando as pessoas se encontram ou se separam, o que é que fazem? Levantam o braço para enviar uma saudação ou dão um aperto de mãos. A mão serve, pois, como meio de emissão e receção entre os humanos. Por isso, é preciso estarmos particularmente atentos àquilo que damos com a mão. Se as pessoas se saúdam, é para fazerem bem umas às outras, para darem mutuamente algo de bom. Se se saúda ou se aperta a mão maquinalmente, com uma atitude negligente, distante, fechada, é inútil. Mas, para aqueles que têm a consciência desperta, é um gesto formidável, significativo e operante pelo qual eles podem encorajar, consolar e vivificar as criaturas, e dar-lhes muito amor. Uma saudação deve ser uma verdadeira comunhão, deve ser poderosa, harmoniosa, viva.

Mas a mão é um meio para entrar em relação não só com os humanos, mas também com a natureza. Quando abris a janela ou a porta, de manhã, habituai-vos a saudar toda a natureza, as árvores, o céu, o sol, erguei a mão, pelo menos a vossa mão etérica, e dizei «Bom dia!» a toda a criação. Perguntar-me-eis: «Mas isso tem utilidade? Serve para alguma coisa?» Sim, serve para começar o dia com um ato essencial: ligar-se à fonte da vida. Em resposta à vossa saudação, toda a natureza também se abrirá a vós, enviar-vos-á forças para todo o dia.

É tempo de compreenderdes que tendes um trabalho a fazer com o vosso pensamento, com o vosso amor, para que a natureza se abra a vós. Experimentai: quando vos aproximardes de um lago, de uma floresta, de uma montanha, parai um momento e acenai-lhe com a mão. Sentireis que, interiormente, algo se equilibra, se harmoniza, e muitas incertezas e incompreensões desaparecerão em vós muito simplesmente porque decidistes saudar a natureza viva e as criaturas que nela habitam. Tocai simplesmente uma pedra com amor e ela já não será a mesma: aceita-vos, vibra em uníssono convosco, também ela vos ama.

Sim! Tudo na terra é vivo e cabe-vos a vós saber como trabalhar para que essa vida venha até vós. No dia em que souberdes manter uma relação consciente com a criação, sentireis a verdadeira vida penetrar em vós.