O dever de ser feliz…

Não se deve confundir uma satisfação mo­mentânea com a felicidade. Portanto, vós não podeis dizer que sois felizes porque obtivestes aquilo que desejáveis: sucessos, vantagens mate­riais ou mesmo o amor de um homem ou de uma mulher… Porquê? Porque nunca podereis estar certos de que isso durará. A verdadeira felici­dade é um estado duradouro e, para ser dura­douro, ele tem de ter por base uma compreensão e uma sensação correctas das coisas. É por isso que os Iniciados ensinam que a verdadeira feli­cidade é um estado de consciência que depende dos pensamentos com que se alimenta o seu intelecto e dos sentimentos com que se alimenta o seu coração. Senão, que felicidade se pode es­perar quando o intelecto e o coração são campos de batalha onde se defrontam pensa­mentos e sentimentos caóticos e devastadores? É da sabe­doria e do amor, isto é, da luz do inte­lecto e do calor do coração, que nasce um movi­mento harmonioso, uma actividade construtiva, equili­brada. E é isso a felicidade.

PQ, 8 Fevereiro 2002

Tornai-vos senhores da vossa felicidade...

Por que é que é tão difícil encontrar a felicidade? Porque se está à espera dela.

Observai-vos e vereis: estais à espera de encontrar o grande amor, o sucesso, a fortuna, a glória, e se eles não vêm ficais tristes. Alguns irão mesmo consultar clarividentes e astrólogos, que lhes dirão: «Sim, o amor virá, o sucesso virá… Daqui a uns seis meses, um ano, quando se der o trânsito tal, a conjunção tal, tudo mudará.» Então, elas ficam descansadas, recuperam a esperança e con­tinuam à espera.

Mas não, o amor não é qualquer coisa que venha, assim, do exterior. A felicidade é um estado de consciência que depende da nossa compreensão correta das coisas. Não se deve imaginar que se veio à terra para ter uma vida fácil, no meio dos prazeres, da abundância. Os seres humanos vêm à terra para aprender e aperfeiçoar-se. Ora, como podem eles aperfeiçoar-se se não tiverem todos os dias novos problemas para resolver? Isto tem de ficar bem claro: a terra é uma escola e, como em todas as esco­las, só aqueles que aprendem e progridem podem estar felizes. Não espereis, pois, que a felicidade venha do exterior sob a forma de encontros ou de condições favoráveis. A felicidade real, definitiva, só pode vir de nós, da nossa forma de considerar as coisas.

Fazei uma experiência: interrogai as pessoas que possuem certas vantagens materiais com que tanto sonhais; elas confiar-vos-ão que não são muito felizes. Ou então, se são felizes, é porque já possuem no seu coração, na sua alma, elementos que lhes permitem apreciar a sua situação e, por isso, seriam igualmente felizes em situações que vos parecem menos invejáveis. Aliás, quantas vezes isto foi constatado: colocadas em situações idênticas, pessoas diferentes não reagem todas da mesma forma.

Consideremos um exemplo banal da vida quoti­diana: um engarrafamento. Observai as reações dos condutores: um enerva-se, buzina e injuria os vizinhos; outro lê o jornal ou ouve rádio; outro conversa com a pessoa que vai com ele no carro, ou beija-a, se se trata da sua amada. Finalmente, outro – mas isto é, evidentemente, muito mais raro – aproveita este momento de pausa para se apaziguar, para se harmonizar, para se recolher, para se ligar ao Céu e enviar o seu amor e a sua luz a todos os seres da terra.

Passa-se a mesma coisa na maior parte das circunstâncias da vida. É, pois, na nossa cabeça que é preciso fazer acertos. É o nosso pensamento que age sobre os nossos estados de consciência. Com um bom raciocínio, uma boa filosofia, é possível tornarmo-nos senhores da nossa felicidade. E onde todas as pessoas se irritam, se atormentam e envenenam a vida daqueles que as rodeiam, vós, pelo contrário, reforçais-vos, enriqueceis-vos e, graças às vossas experiências, depois podeis ajudar os que vos rodeiam, através dos vossos conselhos, da vossa atitude, da vossa irradiação e até, por vezes, simplesmente pela vossa presença, pela força, pela luz e pela paz que emanam de vós.

Então, que fique bem claro: não espereis passivamente que a felicidade venha até vós do exterior. Pelo contrário, cabe-vos a vós agir e aplicar métodos que vos permitirão transformar desgostos em alegrias, reveses em sucessos..

As provações da vida: um desafio a relevar...

O que é que obriga os alpinistas a empreender a subida de cumes cada vez mais altos e de acesso cada vez mais difícil? O que é que obriga os desportistas a nadar, a correr, a pedalar cada vez mais depressa? O que é que obriga os jogadores de xadrez a refletirem horas a fio antes de avançarem um peão no tabuleiro? Nada. São eles que impõem a si próprios esses esforços, esses problemas, essas façanhas. E que alegria eles sentem sempre que alcançam uma vitória!

Quantas atividades, jogos e competições de todo o tipo os humanos inventaram desta forma! Isso mostra bem que eles sentem uma necessidade pro­funda de ir sempre mais longe, mais depressa, mais alto, de se superar, de se ultrapassar. Mas por que é que eles não pensam que deveriam aplicar também na vida quotidiana essas qualidades de resistência, de destreza e de inteligência que têm de demonstrar quando se trata de jogos ou de competições? Por que é que, no dia a dia, eles se queixam sempre de terem de fazer esforços?

Muitos jogos que se praticam atualmente foram imaginados há séculos pelos Iniciados. Com o tempo, a maior parte deles transformaram-se, mas, sobretudo, agora já só se vê o seu aspeto exte­rior, o seu sentido profundo perdeu-se. Para os Ini­ciados, estes jogos eram a transposição de problemas que todos temos de resolver em cada dia. É uma lei absoluta: de uma forma ou de outra, encontramos os mesmos fenómenos nos diferentes planos, físico, psíquico e espiritual.

E, já que os jogos são uma imagem dos problemas que encontramos na vida, por que não se há de encarar esses problemas como jogos? Em vez de vos sentirdes acabrunhados, irritados pela mínima dificuldade, dizei a vós próprios: «Aqui está mais uma oportunidade para eu me exercitar. Vejamos como é que me saio.» Estudai bem a natureza da prova que ides enfrentar e lançai desafios a vós próprios. Por exemplo: «Não vou parar de andar até ter alcançado a meta… Vou transportar pacientemente este fardo… Vou ultrapassar este obstáculo… Vou navegar neste mar revolto e não vou afundar… Quero deixar a região da poeira e das nuvens, para alcançar o cume mais alto: aí respirarei ar puro e verei sempre o sol…» Sim, são desafios como estes que, de vez em quando, podeis lançar a vós mesmos, tal como fazem os desportistas, e vereis que as dificuldades da vida vos parecerão mais fáceis de suportar.

Compreendei bem: a felicidade não é a possibilidade de viver sem dificuldades, sem obstáculos, sem sofrimento. Isso são ilusões, fantasmagorias! A felicidade é ser capaz de atravessar as provas sem capitular e sair delas mais rico e mais forte. Sim, é na vitória sobre as dificuldades que ireis obter a vossa felicidade.

Explorai as vossas riquezas espirituais...

Toda a gente deseja a paz, a liberdade, a felicidade. É igualmente verdade que muitas pessoas as desejam para os outros. Mas, como muito poucas sabem onde encontrá-las e como realizá-las, o que se passa é que, apesar de todos esses desejos magníficos, a maior parte delas são infelizes e tornam as outros também infelizes.

Só existe uma forma de encontrar a felicidade, é dando prioridade à vida interior relativamente às aquisições exteriores. Evidentemente, muitos dirão que já sabem isso: «O dinheiro não traz a felicidade.» Eles sabem que nem as posses materiais nem a glória trazem a felicidade, mas comportam-se como se não o sou­bessem. Vemo-los continuamente preocupados em instalar-se bem na matéria. Por isso, mesmo que tenham sucesso, eles não só não serão felizes, como farão os outros infelizes.

Faz-se tanto alvoroço em torno do sucesso material! Enquanto se atribuir tanta consideração aos que são bem sucedidos financeiramente, socialmente, mostrando-os por todo o lado nos jornais, na rádio, na televisão, estar-se-á a alimentar nos outros, menos favorecidos, o sentimento de que são inferiores, de que não são interessantes, o que gera necessariamente ciúmes, invejas, ódios.

Eu não digo que se deve deixar totalmente de lado o sucesso social, digo é que, se se mostrasse aos humanos que é mais importante explorarem as suas riquezas interiores, a sociedade estaria melhor. Em primeiro lugar, porque haveria mais generosidade. Como quereis que pessoas que concentram todos os seus esforços no sucesso material possam ser realmente generosas? Elas sentem que aquilo que têm não lhes pertence verdadeiramente, que estão à mercê dos acontecimentos ou da maldade de pessoas mais ativas e mais hábeis do que elas; então, é normal que hesitem em partilhar com os outros o que têm tanto medo de perder. E não só não o partilham, como farão tudo para o preservar, mesmo que para isso tenham de ser egoístas, impiedosas, cruéis. Ao passo que aqueles que trabalharam para adquirir riquezas espirituais estarão sempre prontos a fazer com que os outros beneficiem delas: eles sentem que não só não perderão nada, como enriquecerão ainda mais procurando ajudar os outros.

Os humanos precisam de modelos para imitar. Quando eles veem alguém que se distingue pelas suas capacidades, pelo seu sucesso, têm vontade de ser como essa pessoa. Então, atenção!, se a vossa superioridade consiste em ter mais dinheiro, mais poder, mais glória, não sois um grande modelo, porque encaminhareis as pessoas para uma via em que se é sempre levado a dominar os outros, a humilhá-los, a despojá-los. Ao passo que, se a vossa superioridade advém das vossas qualidades espirituais, da bondade, do autodomínio, da nobreza, da generosidade, da pureza, da abnegação… não só sentireis que essas qualidades vos pertencem verdadeiramente e vos permitem fazer face a todas as situações difíceis, mas também ajudareis os outros a entrar no bom caminho e a encontrar a felicidade. Todos precisam de modelos. Não de modelos de sucesso material, mas de modelos que os ajudem a tomar consciência das suas verdadeiras riquezas, as riquezas do coração, da alma e do espírito.

Não pesar aos outros...

Quando se está preocupado, irritado ou infeliz, o que é que se faz? Em vez de se procurar acalmar, ser sensato e dominar-se, corre-se para casa dos vizinhos ou dos amigos, ou então pega-se no telefone para lhes relatar tudo o que corre mal. Quando se acaba, fica-se contente, aliviado, melhor! Sim, mas não se dá conta de que, ao agir assim, é como se se lançasse montes de imundícies para cima dos outros. Não digo que nunca se deva falar das dificuldades aos amigos. Os amigos podem ser uma ajuda preciosa, pelos seus conselhos e apoio. Apenas digo que não se deve servir-se deles como de um caixote do lixo onde, por tudo e por nada, se vão lançar as deceções, a irritação, o mau humor. Nada de bom pode resultar desta forma de agir. Tanto mais que os amigos, que não são muito mais sensatos, vão por sua vez procurar outros amigos para se desfazerem desse fardo, e assim sucessivamente!

Repito: não é repreensível procurar conforto num amigo. Mas, frequentemente, não é um conforto que se procura. Não se espera nenhuma luz, nenhum conselho. Tem-se apenas a necessidade de “aliviar a carga”, mais nada. E se, após tê-lo feito, se fica melhor, na realidade essa melhoria é apenas passageira, porque não se fez um verdadeiro trabalho interior para resolver os problemas e, na primeira ocasião, volta-se a cair no mesmo estado. Então, não só se foi envenenar os outros, como também não se melhorou realmente o seu próprio estado.

Para se desembaraçar dos desgostos, dos aborrecimentos, há outros métodos que não sejam ir a correr relatá-los aos amigos e aos vizinhos. Quando vos sentis mal dispostos, irritados, permanecei tranquilamente em casa, fazei um trabalho com a luz, orai, meditai, cantai, ouvi música… Ou então saí para uma caminhada ao ar livre, respirai profundamente ligando-vos à terra, às árvores, ao Céu… e não vos apresenteis diante dos outros antes de vos sentirdes libertos, aliviados e capazes de lhes trazer pelo menos alguma coisa de bom, de luminoso, de construtivo.

Observai-vos e constatareis que é exatamente o contrário que estais habituados a fazer: quando as coisas correm mal, apressais-vos a contactar com os outros para lhes dar conta dos vossos aborrecimentos, e quando as coisas correm bem não dizeis nada, não tendes nada para relatar. Sim, é extraordinário: quando tudo corre bem, não há nada para relatar! Não vos parece que há qualquer coisa a corrigir e que se devia aprender a só partilhar com os outros os seus bons estados?

E ide mesmo mais longe: quando viveis momentos de paz, de alegria, de deleite, pensai em fazer com que os outros beneficiem desses estados privilegiados. Dedicai alguns minutos a todos os seres no mundo que se encontram na angústia, no desespero. Concentrai-vos neles e dizei: «Caros irmãos e irmãs do mundo inteiro, o que eu possuo é tão belo, tão luminoso, que eu quero partilhá-lo com todos vós. Tomai algo desta beleza, tomai algo desta luz!…» Dado que sabeis que os vossos estados interiores produzem ondas que se propagam, não guardeis a vossa alegria para vós, partilhai-a; assim, não só fareis bem aos outros, como ampliareis esses estados em vós. Sim, é um fenómeno mágico: para conservar a alegria, é preciso saber partilhá-la.

Trabalhai sobre a atmosfera psíquica...

Cada vez mais as pessoas se queixam de que o ar se torna irrespirável: o fumos das fábricas, os gases que saem dos automóveis e muitos outros produtos tóxicos que contribuem para envenenar a atmosfera… É verdade, mas o que dizer então da atmosfera psíquica da terra?

A maioria dos humanos, que vivem sem luz, sem amor, sem consciência das suas responsabilidades, passam o tempo a lançar à sua volta pensamentos e sentimentos tão sombrios, viciados, malsãos, que a atmosfera da terra parece um pântano onde fervilham toda a espécie de animalejos que lançam excrementos no mesmo tanque, e os outros são obrigados a respirá-los, a absorvê-los. Sim, é a triste realidade: uma cidade não é mais do que um pântano onde todos os humanos lançam as suas angústias, os seus ciúmes, os seus ódios e todos os seus desejos insatisfeitos. Se eles fossem um pouco clarividentes, veriam formas horríveis, negras, viscosas, que saem de muitas criaturas para se acumularem nas camadas da atmosfera. Mas, mesmo que não se veja nada, há momentos em que é impossível não sentir nas cidades como que um véu espesso, pesado, tenebroso.

Portanto, mesmo admitindo que toda a gente se mobilize para combater a poluição do ar, da água e da terra, isso será ainda insuficiente, porque no mundo psíquico também se propagam gases, fumos, produtos tóxicos que estão a asfixiar a humanidade. Muitas doenças atuais não são devidas apenas à poluição do ar, da água e dos alimentos, mas também à poluição psíquica. Se a atmosfera psíquica na qual o ser humano está mergulhado não estivesse tão poluída, ele seria capaz de neutralizar todos os venenos exteriores. O mal está, antes de tudo, no interior. Quando alguém se sente interiormente forte e em harmonia consigo próprio e com os outros, é como se fosse atravessado por correntes de energias que eliminam as impurezas, mesmo no plano físico, e assim o organismo torna-se capaz de se defender melhor.

É sobretudo interiormente que as pessoas são vulneráveis, e pouco a pouco o mal acaba por se manifestar também exteriormente. Conhecem-se exemplos disso entre os médicos e os enfermeiros: alguns, que tinham uma fé extraordinária e um sangue muito puro conseguiram viver entre pessoas que sofriam das piores doenças contagiosas, não eram contagiados. Ao passo que outros, mesmo que fugissem, os micróbios apanhavam-nos. Sim, porque tinham deixado penetrar neles impurezas, e as impurezas são sempre um bom alimento para os micróbios e os vírus. A pureza do sangue, assim como a dos pensamentos e dos sentimentos, opõe-se à doença. Ao passo que, se o mal já entrou nos pensamentos, nos sentimentos, no coração, nos desejos, passa a existir uma porta aberta e depois é tão fácil para esse mal descer até ao plano físico!

O que é preciso, a partir de agora, é tomar consciência da existência dessa atmosfera psíquica. Se cada um se esforçasse por produzir menos miasmas e trabalhasse, pelo contrário, para produzir pensamentos puros, luminosos, benéficos, como as coisas nunca ficam no mesmo sítio, pois propagam-se, essas ondas purificadoras seriam um bênção para a humanidade. Mas onde estão os seres esclarecidos que queiram fazer este trabalho? Não há muitos: cada um está ocupado a satisfazer os seus desejos, as suas cobiças, e tenta ser bem-sucedido a todo o custo, ao soco, ao arranhão, à dentada e ao pontapé. Por toda a parte essas armas são usadas para abrir caminho e essa atitude tem custos para toda a humanidade, pois a atmosfera é atravessada por ondas caóticas, por emanações malsãs. Se existisse no mundo um número suficiente de seres esclarecidos que, pela sua forma de viver, trabalhassem para purificar primeiro que tudo a sua atmosfera espiritual, pouco a pouco, levados pelo exemplo, muitos outros fariam o mesmo. Por isso eu vos falo tão frequentemente da necessidade de criardes através do pensamento, em todos os locais onde estiverdes, uma atmosfera límpida, harmoniosa, fraterna, a fim de que a terra se torne, um dia, como um jardim florido onde todos se sentirão felizes por nela habitar.

Nunca desanimeis...

Para nunca cair no desespero, é preciso saber à partida que, o que quer que se queira fazer na vida, mesmo as melhores coisas, será necessário enfrentar o mal sob a forma de dificuldades e de obstáculos. Não ver o mal é perigoso. Aquele que nunca vê o mal não toma precauções, não faz nada para arranjar as coisas ou neutralizá-las e acaba por cair numa armadilha. Paga-se sempre muito caro a sua ingenuidade, e paga-se primeiro que tudo pelo desânimo. Quem está cheio de ilusões, na primeira ocasião difícil perde o equilíbrio e cai.

O desânimo está sempre à espreita, mas existem métodos para lhe fazer frente. Quando começardes a sentir-vos acabrunhados, abatidos, a primeira coisa a fazer é dizer a vós próprios que esse estado não durará. Por um momento, refugiai-vos em vós mesmos, como se entrásseis em hibernação, e permanecei assim até encontrardes de novo o alento. O desânimo é como o inverno; mas depois do inverno regressa a primavera. Conforme os anos, ele vem mais cedo ou menos cedo; às vezes vem muito tarde, mas acaba sempre por chegar. Por isso, nunca se deve perder completamente a esperança. Num momento ou noutro, mais tarde ou mais cedo, o vosso entusiasmo e a vossa energia voltarão. Quantos não desistiram apenas alguns instantes antes das forças da primavera ressurgirem neles! E foi pena, eles iam finalmente ser salvos, mas não pressentiram nada da renovação e perderam-se…

Deter-se naquilo que corre mal é muito prejudicial, pois desse modo o que é mau torna-se ainda pior. Quaisquer que sejam os vossos tormentos, nunca deixeis obscurecer completamente o vosso céu interior. Dizei a vós mesmos: «Talvez nem tudo esteja ainda perdido, esperemos mais algum tempo.» Pouco a pouco, a escuridão dissipar-se-á e o frio deixar-vos-á.

Na vida – é preciso saber isto! – é-se sempre obrigado a passar por períodos difíceis, por vezes muito difíceis. Na terra é assim, está-se necessariamente sujeito às alternâncias: o dia e a noite, o calor e o frio, a alegria e a dor, a primavera e o inverno. É preciso aceitar e aprender a trabalhar com esses elementos, porque – não alimenteis ilusões! –, quando tiverdes conseguido triunfar em certas provas, outras virão. Mas, fortalecidos pelas experiências anteriores, podereis sair vitoriosos em cada situação.

Não vos digo que, o que quer que aconteça, se deva repetir ingenuamente: «Eu estou feliz, eu estou feliz.» Digo-vos simplesmente que as dificuldades não são sinónimo de infelicidade definitiva e que elas não vos impedirão de ser felizes, o que é diferente. O sofrimento, a infelicidade, são realidades terríveis que é absolutamente impossível negar. Mas, seja o que for que vos aconteça, podeis fazer um trabalho pelo pensamento que vos permitirá não só aguentar as dificuldades, mas até sair delas enriquecidos. E essas riquezas não podeis guardá-las para vós: pela vossa atitude, pela vossa forma de encarar os acontecimentos, partilhá-las-eis com os outros.

Por que achais que a felicidade deve vir unicamente sob a forma que esperais? Tendes tantas possibilidades diante de vós! Mas não as vedes, não quereis vê-las, apegais-vos à ideia que tendes delas. Esperais que uma determinada porta se abra para vós, mas ela permanece fechada. Então, em vez de vos lamentardes diante dessa porta, pensai que poderão existir outras, ao lado, que se abrirão. Esperais coisas boas de alguém, mas não só essa pessoa não vo-las dá, como se mostra desagradável ou ingrata. Muito bem, em vez de vos deixardes abater por essa deceção, olhai um pouco melhor à vossa volta: existem outras pessoas que estão certamente prontas a ajudar-vos; se permanecerdes concentrados na vossa deceção, unicamente ocupados a enviar maus pensamentos àqueles que vos dececionaram, não vereis esses outros amigos que vêm ter convosco. É nesse sentido também que as dificuldades são úteis: elas obrigam-vos a fazer ou a descobrir o que não faríeis ou não descobriríeis sem elas.

Então, tomai consciência de que, muitas vezes, é por causa da vossa atitude negativa que não encontrais soluções para as vossas dificuldades. E por isso a vida continua a sacudir-vos, dizendo: «Mas, afinal, tu és cego, és surdo? Acorda, vê todas as outras possibilidades que se apresentam à tua volta!» E o que eu vos digo a vós, digo-o também a mim. Aliás, é precisamente porque fiz milhões de vezes estas experiências que eu posso falar-vos delas para vos ajudar. Pensais que eu poderia falar-vos assim se não tivesse vivido também grandes provações?

Quando, diante de certas dificuldades, sentis chegar o desalento e o desespero, não os considereis como inimigos que não têm o direito de vos atacar. Infelizmente, eles têm esse direito. É preciso, pois, aceitar os seus ataques sabendo que, graças a eles, muitas coisas correrão bastante melhor a seguir. E é verdade que, depois de um grande desalento, tendes energias incríveis. De onde vieram essas energias? Foi o desalento que as trouxe. É assim mesmo! Claro que é preciso ser prudente e evitar que o desalento não seja mais forte do que vós, que ele não vos arraste, como uma corrente poderosa que acaba por afogar-vos. Aceitai-o como algo inevitável, mas ficai atentos. Sim, eis mais um exercício.

Então, de agora em diante não peçais para não perderdes o ânimo; pedi somente para compreenderdes bem esse estado, porque ele traz riquezas, tesouros incríveis: a primavera que se segue ao inverno.

Acendamos as nossas lâmpadas...

Sejam quais forem as vossas dificuldades e as vossas tristezas, tentai nunca vos mostrar abatidos nem aflitos; pelo contrário, acendei todas as lâmpadas em vós! Sim, quanto pior correm as coisas, mais deveis acender as vossas lâmpadas. É o único meio de ultrapassardes as provações e de atrairdes a simpatia e a ajuda dos outros.

Acreditais que os vossos problemas podem tocar o coração das pessoas e então ides falar-lhes neles, exagerando até, na esperança de despertar a sua compaixão. Mas não, esse não é o melhor método. É claro que elas vos dirão palavras animadoras, vos expressarão os seus votos ou as suas condolências, mas interiormente só procurarão um pretexto para sair dali o mais depressa possível. Sim, infeliz ou felizmente, é assim. Se quereis repelir as pessoas, falai-lhes das vossas desgraças, das vossas doenças, dos vossos desgostos; em vez de vos escutarem, elas só terão uma coisa em mente: escapar-se.

O que atrai os seres é beleza, é a luz, é o amor… Portanto, quando tendes aborrecimentos, em vez de irdes falar deles por toda a parte, procurai, pelo pensamento, pela oração, as forças que vos permitirão ultrapassar as vossas dificuldades. Acender as lâmpadas é isso. Pensai que as pessoas já estão cheias de todo o tipo de problemas que têm dificuldade em resolver; então, para quê ir ainda sobrecarregá-las com os vossos? Elas não podem fazer nada. Não só perdeis o vosso tempo a contar inutilmente os vossos problemas, como vos enfraqueceis e também correis o risco de perder a estima dos outros.

A melhor forma de resolverdes os vossos problemas é entrardes em vós mesmos e ligardes-vos a todas as entidades luminosas do mundo espiritual que estão prontas a ajudar-vos. Elas dar-vos-ão a força, a luz e tudo aquilo de que necessitais para resolver os vossos problemas. E isso refletir-se-á beneficamente nos outros: eles sentirão em vós algo de diferente, verão que suportais as dificuldades, que resistis às provações sem vos queixardes, por isso admirar-vos-ão e virão tomar-vos como modelo. E até tentarão, se puderem, dar-vos a sua ajuda e o seu apoio. Ao passo que, se estiverdes sempre abatidos, esmagados, fracos, não só não ganhareis a simpatia dos outros, como não lhes fareis bem algum.

Portanto, sejam quais forem os vossos aborrecimentos, encontrai a atitude e as palavras que possam ajudar todos aqueles que encontrardes. Será com esse esforço de desapego de interesses pessoais e de generosidade que conseguireis resolver os vossos problemas.

Um simples gesto...

   Muitas perturbações psíquicas e depressões graves têm como origem apenas a negligência, em pessoas que não souberam fazer o esforço de reagir imediatamente a certos mal-estares. Após uma deceção, um desgosto, um revés, elas deixaram-se submergir pouco a pouco pelo desalento até se tornarem realmente doentes. Poderiam muito bem nunca ter chegado a essa situação se tivessem procurado imediatamente mudar o seu estado. Ora, a maioria das pessoas não reage, espera que as coisas se resolvam por si mesmas. É verdade que, na maior parte dos casos, a vida retoma naturalmente o seu curso; mas, em certas situações mais difíceis, se não se estiver atento as coisas não se resolvem.

E o mais grave é que muitas pessoas nem sequer se dão conta de que estão a escorregar por uma ravina perigosa: afundam-se pouco a pouco em estados mórbidos e um dia são “engolidas”. O que no começo era apenas um pequeno mal-estar acaba por tornar-se uma verdadeira doença.

Deveis, pois, tornar-vos conscientes, saber que pensamentos, sentimentos e sensações vos atravessam, e não permitir que se instalem em vós estados negativos. A partir do momento em que sentis um mal-estar interior, reagi! Frequentemente, basta um simples pequeno gesto: regar as flores, sorrir ou dizer umas palavras bondosas a alguém, oferecer a uma pessoa um objeto de que ela necessita ou que lhe agradará… Mas só se esse gesto for feito conscientemente, com a vontade de dar uma outra orientação aos vossos estados interiores e, sobretudo, de o fazer antes de as coisas se tornarem graves. O essencial é não ficar apático, estagnado, mas sim desencadear conscientemente algo de positivo.

Portanto, tentai vigiar sempre os vossos estados interiores, senão passar-se-á convosco o mesmo que com uma bola de neve que começastes a empurrar: a neve vai-se aglomerando e chega o momento em que essa bola, que ficou enorme, acaba por obstruir o vosso caminho. Vós lamentai-vos: «Já não posso passar!» De quem é a culpa? Quem formou essa bola? Vós próprios! Alimentastes toda a espécie de pensamentos e sentimentos negativos, permitistes que eles tomassem proporções gigantescas na vossa cabeça, no vosso coração, e ficastes encurralados, bloqueados. «E agora, o que hei de fazer?» Acendei um fósforo e aproximai-o dessa bola de neve: ela derreterá, a água irá regar os vossos jardins, os vossos pomares, e tereis flores e frutos em abundância. É isto que se deve fazer: acender o fogo do amor; e o amor fará derreter em vós todas as bolas de neve, todos os tumores.

Sim, o amor manifesta-se através de todos esses gestos aparentemente sem importância que podemos fazer em cada dia. Não espereis que o vosso equilíbrio e a vossa saúde venham de grandes coisas. As pequenas coisas são as mais benéficas. Se vos habituardes a levá-las a sério, desenvolvereis em vós uma atitude e forças que podem proteger-vos. Existem tantas possibilidades! Nem que seja apanhar do chão ou do caminho um objeto, um papel, uma garrafa vazia… afastar uma pedra em que alguém poderia tropeçar ou pedaços de vidro em que alguém poderia ferir-se… Esforçai-vos por encontrar sempre algo novo para fazer, sabendo que cada pequeno gesto executado com diligência, sinceridade e amor será como uma criatura de luz que afastará as trevas ou as impedirá de entrar em vós e destruir tudo.

Dar para se tornar rico...

  Por que estais sempre a queixar-vos de que vos falta isto, de que vos devem aquilo, de que não vos amam, de que não pensam em vós?… Pensais que todas essas queixas e essas exigências vos trarão a felicidade? Pelo contrário, elas preparam-vos uma existência de deceções e sofrimentos. Começai por ocupar-vos um pouquinho menos de vós e um pouco mais dos outros; depressa verificareis que as coisas correm melhor.

É claro que vos faltam algumas coisas; mas tende bem presente que vos faltarão sempre coisas e que, se mantiverdes essa atitude negativa, ainda vos faltarão mais. Então, esquecei um pouco aquilo que vos falta, alegrai-vos por aquilo que tendes, e aprendei a trabalhar com isso. Quando se tem, como vós, a possibilidade de abarcar todo o universo com o pensamento, de comungar com todas as criaturas luminosas que o povoam, como é possível sentir-se pobre e só? O que vos falta ainda para compreender que sois ricos, abençoados, e que tendes mesmo muito com que ajudar os outros? Enquanto não vos ocorrer a ideia de tornar os outros felizes, nunca sereis felizes vós próprios. Para se ser feliz é preciso chegar a essa expansão de consciência na qual se sente que se abarca o mundo inteiro. E somente o amor permite essa expansão.

O mal dos humanos é que eles têm sempre medo de perder alguma coisa, e então fecham-se. Não compreendem que é justamente essa atitude de fecho que os empobrece. Para se enriquecer, é preciso dar. Sim, aquele que recebe empobrece, aquele que dá enriquece. Porque dar é despertar em si mesmo forças desconhecidas que estavam adormecidas, estagnadas algures nas profundezas: elas começam a jorrar, a circular, e sentimo-nos tão preenchidos que ficamos espantados, dizemos a nós próprios: «Mas como é isto? Eu dei, dei, e estou mais rico…» Pois bem, é isso a nova vida! Ouve-se dizer por toda a parte: «É preciso mudar a vida, é preciso mudar a sociedade…» Mas como quereis criar uma nova sociedade, enquanto se mantiver a mesma velha mentalidade: sempre receber, receber, receber, sem nunca dar!

Há que habituar-se a dar, a dar aquilo que se possui de melhor. Os humanos aprenderam sobretudo a receber, a tomar para si, a apropriar-se. Materialmente, afetivamente, mentalmente, só pensam em apropriar-se: as coisas, os seres, só lhes interessam na medida em que esperam encontrar neles qualquer coisa de que possam tirar proveito. Com uma tal filosofia, nada mudará no mundo, nunca, e os humanos continuarão a sentir-se sós, pobres e infelizes.

De agora em diante, habituai-vos a dar. Observai a nascente: os humanos, os animais, vêm saciar a sede nela, e junto a ela crescem plantas e árvores. Porquê? Porque ela não cessa de dar a sua água pura, a sua vida. A nascente ensina-nos que apenas existe um método verdadeiro para atrair as criaturas: dar, dar o que possuímos de melhor no nosso coração e na nossa alma. E porquê temer a ingratidão das pessoas? Tanto pior para elas se são ingratas, pois permanecerão pobres; e tanto melhor para vós se sois uma nascente, pois tornar-vos-eis ricos.

A nossa melhor proteção: a aura...

 Tal como a Terra, o homem está rodeado por uma atmosfera, digamos assim, e é a essa atmosfera que a Ciência Iniciática chama a aura. É através da nossa aura que comunicamos com as forças e as correntes que circulam no espaço; de acordo com as qualidades da nossa aura, de acordo com a sua sensibilidade, a sua pureza, o seu poder, recebemos ou não determinadas influências. Nós vivemos rodeados de correntes negativas, mas, se tivermos uma aura muito poderosa, muito luminosa, essas correntes não poderão passar e chegar à nossa consciência para nos abalar e nos perturbar. Porquê? Porque, antes de nos atingirem, encontram a nossa aura, que age como um guarda fronteiriço e não as deixa passar.

A qualidade da nossa aura, a sua capacidade de nos proteger, depende da nossa forma de viver. Naquele que se deixa levar pelas suas tendências inferiores, a alma torna-se semelhante a um pântano que só atrai as influências obscuras, tenebrosas. Como atrair boas coisas quando não se para de criar em si uma atmosfera destrutiva com os seus maus pensamentos, o seu rancor, os seus sentimentos de frustração? Ficai a saber que nesses momentos, mesmo que venham até nós coisas boas, somos nós próprios que as repelimos.

A questão que se vos coloca é, pois, a de saberdes trabalhar sobre a vossa aura para que ela receba apenas correntes favoráveis, criando assim em torno de vós uma espécie de campo magnético que vos protege e influencia beneficamente os seres de que vos aproximais. Eles não sabem porquê, mas sentem-se bem junto de vós. Na realidade, o que eles sentem é uma presença, a presença dos seres espirituais que a vossa aura terá atraído, porque as entidades celestes gostam da luz e, quando veem um ser rodeado dessa luz, acorrem até ele.

É, pois, todo um trabalho que deveis realizar sobre vós mesmos durante anos, para atrairdes tudo o que é verdadeiramente belo e benéfico no universo. Se eu vos perguntar: «Importa-vos verdadeiramente a vossa saúde, a vossa beleza, a vossa paz, a vossa felicidade? Importa-vos ser amados?”, todos respondereis: «Sim, não queremos outra coisa!» Então, por que não fazeis nada para as obter? Essas bênçãos não podem cair-vos em cima assim, por acaso. Trabalhar sobre a aura é o melhor meio para as atrair: através do amor, vós vivificai-la; pela sabedoria, tornai-la mais luminosa; pela força do vosso caráter, tornai-la poderosa; por intermédio de uma vida pura, tornai-la límpida e clara. Aquele que, pacientemente, sinceramente, se consagra à prática das virtudes adquire pouco a pouco uma aura imensa na qual não só as criaturas celestes vêm banhar-se, mas também os humanos se sentem alimentados, apaziguados, reforçados, guiados numa direção divina.

A solidão não existe...

 Imensas pessoas se queixam de solidão! Pois bem, tais pessoas devem saber que foi nelas, na sua cabeça, que criaram essa solidão. Na realidade, nunca se está só. Então, por que é que elas se sentem sós? Porque não têm muito amor. «Como?», reagirão elas. «Mas nós temos imenso amor, só sonhamos com o amor!» É precisamente esse o erro, elas sonham com o amor, aguardam o príncipe ou a princesa das Mil e Uma Noites, e é por isso que se sentem sós: esperam o amor em vez de o procurarem em si próprias. O amor de que se fica à  espera nunca virá. O amor não se deve esperar do exterior, ele está dentro de nós. Deixai-o sair, manifestar-se, é a única forma de o encontrardes verdadeiramente.

Nunca estamos sós: todo o universo nos escuta. Nenhuma das nossas palavras, nenhum dos nossos gestos, fica sem eco. Por exemplo, quando saís de vossa casa, de manhã, sorri ao mundo inteiro, saudai toda a criação: «Bom dia, bom dia, bom dia!» Durante todo o dia, já não vos sentireis sós, porque, vindas de todos os cantos do espaço, haverá vozes a responder-vos em eco: bom dia, bom dia, bom dia… Os humanos saem de suas casas fechados em si mesmos: eles veem e ouvem os outros por quem passam, mas não os olham, não os escutam. Por que não se lembram eles de que o mundo inteiro está povoado de criaturas que merecem ao menos que se lhes envie um pensamento, que se lhes deseje boas coisas: a luz, a paz, a alegria…? Será assim tão difícil para eles abrirem-se, sorrirem, darem o primeiro passo? Ficam à espera de que sejam os outros a fazer isso e, entretanto, lamentam-se porque se sentem sós.

Começai a partir de hoje a mudar de atitude e vereis que nunca mais vos sentireis sós. Dir-me-eis: «Sim, mas as pessoas que encontramos por toda a parte, nas ruas, nas lojas, no trabalho, não nos inspiram e, aliás, se nos mostrarmos assim tão abertos em relação a elas, elas não nos compreenderão.» É verdade, há pessoas que não vos compreenderão; se as cumprimentardes, se lhes sorrirdes, elas dirão: «O que é que lhe deu?» Sim, uns quantos serão incapazes de vos compreender, mas muitos outros compreender-vos-ão e ficarão felizes! E depois, será que nós vivemos apenas para as pessoas que encontramos? Não, vivemos para toda a criação, e existem muitas criaturas nas regiões invisíveis que saberão apreciar o vosso amor e isso é o essencial.

E por que não aprendeis a olhar de uma maneira menos superficial todas as pessoas que encontrais e não vos inspiram? Fixais-vos sempre na aparência, e é verdade que, muitas vezes, ela não é famosa. Mas os humanos não se limitam a uma aparência, cada um tem uma alma e um espírito, e, mesmo que se manifestem raramente, essa alma e esse espírito estão lá, têm sempre a possibilidade de aparecer e de se exprimir. Ter para com os humanos um olhar tão superficial é dar mostras de pouca inteligência. Um sábio sabe que os homens e as mulheres são filhos e filhas de Deus, fixa-se nesse pensamento e aborda todos os seres com esse pensamento. É um trabalho criador que ele faz, porque assim desenvolve o lado divino em todos aqueles que encontra… e sente-se feliz. Podeis crer que a melhor forma de agir para com os outros é descobrir as suas qualidades, as suas virtudes, as suas riquezas espirituais, e concentrar-se nelas.

Não há mérito algum em descobrir os defeitos das pessoas, isso é demasiado fácil e, aliás, toda a gente o faz. De agora em diante, procurai não vos deter nos detalhes que não são muito gloriosos e dai prioridade ao princípio divino que vive em cada ser. Sim, por que não se há de ter sentimentos sagrados por aquilo que é divino, imortal, eterno no homem? Desse modo, fazeis um bom trabalho sobre vós mesmos e também ajudais os outros. Ao passo que, se vos ocupardes dos seus defeitos, fazeis mal a vós próprios, porque vos alimentais de imundícies e impedis também os outros de evoluírem. E depois, como quereis não vos sentir sós? Criticando os outros, salientando os seus defeitos, não fazeis mais do que criar um fosso entre eles e vós. Podeis crer que, quando souberdes entrar em relação, pela vossa alma e pelo vosso espírito, com todas as almas e todos os espíritos na terra, quando o que há de melhor em vós encontrar o que há de melhor nos outros, já não vos sentireis sós.

Vivei na poesia...

 Quer se ande nas ruas, nas lojas, no metro ou nas estações de comboio, só se vê rostos sem brilho, fechados, inexpressivos! Será normal que os humanos manifestem tão pouca alegria por se encontrarem e que inflijam uns aos outros um espetáculo tão prosaico? Por que não se mostram eles mais calorosos, mais expressivos, mais sorridentes, mais vivos? Mesmo que não se tenha qualquer razão para estar triste ou aborrecido, basta encontrá-los para se ser influenciado, e então chega-se ao trabalho ou regressa-se a casa de mau humor, deprimido, e comunica-se este estado aos colegas ou à família. Eis a vida deplorável que os humanos estão continuamente a criar uns aos outros. Pensais que não é importante apresentar a todos aqueles que encontrais um rosto aberto, amistoso, fraterno? Mas é isso a verdadeira poesia. Para se ser verdadeiramente poeta, não basta escrever versos. O verdadeiro poeta é aquele que cria a poesia na sua própria vida esforçando-se por introduzir nela a pureza, a luz, o amor, a alegria. Alguns dirão: «Mas como se pode sorrir, como se pode ser alegre, quando se pensa em todas as tragédias que se abatem sobre a humanidade? E todos esses infelizes que se encontra nas ruas!…» Ah! E pensais que eles se sentirão melhor por vos verem com uma cara de palmo? É certo que é preciso fazer qualquer coisa pelos infelizes. Mas se vós, que não tendes de sofrer privações, doenças ou perseguições, vos passeais com uma cara lamentável, de que valerá isso? Para ajudar os outros, é preciso começar ao menos por lhes apresentar um rosto aberto, sorridente.

Sim, aquilo de que se gosta nos seres e que se procura neles é a poesia: algo de leve, de luminoso, que se tem necessidade de olhar, de sentir, de respirar, algo que apazigua, que harmoniza, que inspira… Por que é que as pessoas nunca se preocupam com a impressão desagradável que produzem nos outros?  Elas têm um ar baço, andam rabugentas, de lábios cerrados e sobrolho carregado, e, mesmo que tentem melhorar a sua aparência por todo o tipo de meios, a sua vida interior, prosaica, vulgar, está sempre a transparecer. O maior segredo, o método mais eficaz, é o amor, o amor que harmoniza, que ilumina o vosso rosto e todo o vosso ser interior.

Quando saís de vossa casa no começo do dia, pensai em saudar todas as criaturas dos mundos visível e invisível. Vereis que depois, ao longo de todo o dia, sentir-vos-eis na poesia, porque tereis enviado o vosso amor e de todas as regiões do espaço o amor voltará a vós multiplicado. Há tantas coisas que se pode fazer para tornar a vida bela e poética! É preciso também não se deixar monopolizar demasiado pelas preocupações e questões materiais e guardar um pouco de tempo e de energias para dedicar a todas as atividades que darão sentido à vossa existência. Os humanos ainda não compreenderam nada: falam de amor, querem ser amados, mas permanecem fechados, baços… prosaicos! Eles não sabem como viver essa vida poética graças à qual serão amados. Se fossem mais inteligentes, compreenderiam até que ponto essa atitude é deplorável para eles e para os outros.

Procurai tornar-vos cada dia mais vivos. Reside aí a salvação para vós mesmos e para os outros. E tornar-vos mais vivos significa dar a vossa luz e o vosso calor. Sim, é um exercício a fazer para sair um pouco de si próprio, desse estado de estagnação tão prosaico: aprender a manter conscientemente em si um estado de poesia. É tão agradável encontrar uma criatura na qual se sente que tudo é animado, luminoso! Gosta-se de uma árvore porque ela tem frutos, gosta-se de uma nascente porque a água jorra cantando, gosta-se das flores porque elas têm cores e perfumes; da mesma forma, gosta-se das criaturas que se abrem para dar algo de claro, de luminoso, de perfumado, de melodioso. Então, aprendei a cultivar em vós esse estado de esplendor, de irradiação. Habituai-vos a sorrir, a olhar com amor, a arrancar do vosso coração algumas partículas vivas para as enviar aos outros… e quem se sentirá mais feliz sereis vós!

Um segredo mágico: a gratidão...

 Aprendei a colocar na balança as pequenas contrariedades da existência e todos os bens que a Providência nos distribuiu abundantemente, e tirai conclusões: não podereis deixar de sentir gratidão.

Ora, observai-vos e constatareis que, em vez de verdes as coisas desta forma, não parais de comparar o pouco que possuís, supostamente, com tudo o que possuem os outros que são mais privilegiados do que vós. Pois bem, tais comparações não fazem sentido. Se tendes absoluta necessidade de fazer comparações desse género, por que não tomais em consideração todas as vantagens que possuís em relação a tantas outras pessoas do mundo que vivem em condições verdadeiramente terríveis?… A ingratidão e o descontentamento constantes dos humanos são um sinal de falta de inteligência: em vez de tomarem consciência das bênçãos com que o Céu os cumula, eles só veem, por toda a parte, razões para ficarem infelizes.

Em cada manhã, ao acordar, chamai em primeiro lugar a alegria e o amor. Em vez de começardes o dia pensando que vos falta dinheiro, que aquele ou aquela que amais não vos é fiel, que tal vizinho ou tal colega de trabalho vos persegue, dizei: «Senhor Deus, eu Te agradeço hoje por me encontrar vivo e saudável, por poder respirar, comer, andar, ver, ouvir, pensar, amar, porque estes são tesouros inestimáveis.» Sim, levantai-vos alegremente em cada manhã, agradecendo ao Senhor por tudo o que tendes.

Só a gratidão pode salvar-nos. E devemos aprender a agradecer mesmo pelos acontecimentos desagradáveis, porque é a melhor forma de os transformar. Se começardes a gritar e vos revoltardes, o vosso estado nunca melhorará. Mas se disserdes: «Senhor, obrigado, há certamente uma razão para que eu encontre este obstáculo, devo ter ainda qualquer coisa para aprender», sentireis que, pouco a pouco, transformais as vossas dificuldades em ouro e pedras preciosas. Sim, é como se as cobrísseis com um pó de ouro ou de cristal: elas ficam com outro aspeto. Experimentai e vereis.

Nada pode resistir perante a gratidão. Então, agradecei em cada dia ao Céu até sentirdes que tudo o que vos acontece é para vosso bem. A partir de agora, dizei: «Obrigado, Senhor, obrigado Senhor…» Agradecei por aquilo que tendes e pelo que não tendes, por aquilo que vos alegra e pelo que vos faz sofrer. Assim, mantereis em vós a chama da vida. É uma lei que é preciso conhecer. Vós direis: «Mas como agradecer quando se está infeliz, doente, na miséria? Nunca o poderemos fazer!» Podeis, sim, e é esse o maior segredo: mesmo estando infeliz, é preciso encontrar uma razão para agradecer. Sois pobres, estais doentes? Agradecei, agradecei, regozijai-vos… por quê? Por ver os outros ricos, de boa saúde, na abundância. Vereis que, pouco depois, certas portas abrir-se-ão e as bênçãos começarão a derramar-se sobre vós.

Ser capaz de agradecer e de se alegrar mesmo quando, aparentemente, não se tem qualquer motivo de regozijo – eis uma filosofia extraordinária que vos dará a possibilidade de ultrapassar todas as dificuldades, de planar acima da vida, de ser senhor de todas as situações. Nenhum químico descobriu ainda um elemento que produza efeitos tão poderosos no ser humano como a gratidão. Em nenhum laboratório se estudou ainda a repercussão que pode ter sobre o organismo humano o simples facto de agradecer, tudo o que pode ser mudado no cérebro, no coração, nos pulmões e até no sistema circulatório, no sistema muscular…

Como é possível não agradecer por tudo o que o Céu nos dá? Só que isso não se vê, porque as pessoas estão habituadas a olhar sempre para baixo, quer dizer, a ver tudo o que corre mal, tudo o que é motivo de preocupações, de inquietudes, de desgostos. Esquecem-se de olhar para cima, para o alto, onde se encontra a luz, a beleza e tudo o que pode, precisamente, dar um impulso à nossa alma, levá-la a descobrir os meios para ultrapassar as dificuldades e agradecer ao Céu.

As preocupações e as dificuldades existirão sempre, o que quer que façais; é inútil lutar contra elas, pois vós é que sereis esmagados. Então, o que fazer? Exatamente o que se faz contra as intempéries ou contra os insetos: equipar-se. Contra a chuva usa-se um guarda-chuva, contra o frio veste-se roupas quentes ou liga-se o aquecedor; contra os mosquitos usa-se uma rede mosquiteira ou aplica-se um produto. Pois bem, contra as dificuldades não há outra solução que não seja olhar para o alto a fim de receber a luz e a força; então, vós não só triunfareis, como ficareis agradecidos.

Aquele que aspira à felicidade deve saber mostrar-se reconhecido por tudo o que possui e procurar levar algo de luminoso aos outros. Ele aprende a regozijar-se, em particular pelas coisas que até então tinha desdenhado ou negligenciado. Em cada dia, ele procura descobrir um acontecimento, um encontro, um pensamento, que lhe faz bem ou o maravilha e coloca-o no seu coração, na sua memória, na sua inteligência. Se agradecerdes em cada dia ao Senhor, se ficardes contentes com tudo o que Ele vos dá, possuíreis um segredo mágico que pode transformar a vossa vida, e as entidades luminosas do mundo invisível aproximar-se-ão de vós para vos ajudarem.

Re-encontrai os momentos de felicidade...

  Fostes a um concerto, escutastes, suponhamos, uma sinfonia de Beethoven ou uma Missa de Mozart que vos “transportou”. Vivestes então momentos sublimes e, ao regressar a casa, pensais que gostaríeis de ouvir novamente essa música para poderdes mergulhar na mesma atmosfera, repetir as mesmas sensações de deslumbramento. Então, o que fazeis? Sabeis que essa música está gravada, comprais o disco e depois podeis escutá-lo sempre que quiserdes: ele passa a pertencer à vossa discoteca.

Pois bem, ficai a saber que nós também possuímos toda uma discoteca em nós próprios. Sim, o mínimo acontecimento que vivemos na nossa existência está registado em nós. Em psicologia, chamam-se a estes registos memória ou subconsciente. Mas pouco importa como se lhes chama, o essencial é saber utilizá-los. A partir do momento em que conseguistes viver um segundo divino, a eternidade infiltrou-se nesse segundo. Obtivestes um cliché e esse cliché viverá eternamente, permanece em vós, impossível de apagar. Então, quando vos sentis mal dispostos, perturbados, no vazio, entrai na vossa discoteca interior e esforçai-vos por reproduzir esses estados de consciência maravilhosos graças aos quais, pelo menos durante alguns segundos, compreendestes que a existência pode ser luz, paz, beleza, amor, plenitude. Mesmo que, de momento, estejais numa situação e num estado de espírito muito distantes desses momentos de felicidade, eles não se apagaram em vós, podeis reproduzi-los e sentir-vos atravessados pelas suas vibrações benéficas.

Vós tendes possibilidades incríveis, mas não as conheceis e é essa ignorância que vos impede de compreender, de avançar, de criar. Tendes tudo no vosso interior, mas não fazeis nada, porque ninguém vos revelou as vossas possibilidades. Então, o tempo passa, a vida vai-se e nada foi feito.

Até a criatura mais infeliz, mais desprovida de meios, teve na vida alguns momentos de felicidade dos quais se pode recordar para neutralizar os pensamentos e os sentimentos que a oprimem. Porquê repisar incessantemente as deceções, as mágoas? A ignorância, sempre a ignorância… Observai-vos e constatareis que não fazeis grande coisa para retomar os momentos de felicidade que vivestes. Em compensação, com que facilidade mantendes as recordações penosas e dolorosas! Porquê? Para que serve isso? É tempo, agora, de aprender a trabalhar com os elementos positivos.

Não vivestes momentos de felicidade na vossa família, com os vossos amigos?… E com livros, obras de arte, música… ou diante de certos espetáculos da natureza… Então, procurai esses momentos, mesmo que sejam só três ou quatro, ou apenas um. Regressai a eles frequentemente…recordai-vos do local, das circunstâncias, das pessoas, concentrai-vos para retomar os mesmos pensamentos, os mesmos sentimentos, as mesmas sensações. Pouco a pouco, tereis a impressão de estar a viver de novo esses estados com a mesma intensidade como se estes vos fossem proporcionados agora, por uma causa real. O essencial não é o que se passa objetivamente, no exterior de vós, mas o que sentis interiormente.

Procurai, de hoje em diante, todos os momentos em que compreendestes, sentistes, que a vida é bela e tem um sentido. Que todos esses momentos estejam à vossa disposição para o dia em que precisardes deles! E fazei de modo a poderdes escolher, porque, consoante as circunstâncias, da mesma forma que uma música é mais apropriada do que outra, uma determinada recordação será mais benéfica do que outra.

E, quando tiverdes reunido esses momentos, regressai a eles frequentemente. Desse modo, estareis a amplificá-los, a vivificá-los e, ao contrário dos discos que comprais, que acabam por ficar gastos, quanto mais “tocais” esses discos, gravados no vosso coração, na vossa alma, mais eles se tornam sólidos e resistentes. Aliás, quer eles sejam benéficos, quer sejam nocivos, aplica-se a mesma lei: quanto mais os utilizais, mais eles se reforçam.

Será que me compreendestes? Quando alguém se sente infeliz, desanimado, pode sempre regressar a esses minutos em que sentiu a realidade da vida divina. Recordai-vos de houve um dia na vossa vida em que uma voz magnífica cantava árias celestes. Entrai na vossa discoteca interior e colocai esse disco na vossa aparelhagem: ficareis de novo cativados, tomados de encanto… Pouco a pouco, ireis re-erguer-vos e retomar o caminho com coragem e esperança.